São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Após anos de serviços, freiras perdem sua casa

Por DAVID GONZALES

Por trás das paredes de tijolos que cercam o Convento da Graça no Brooklyn, gerações de freiras ensinaram analfabetos, abrigaram sem-tetos e criaram órfãos. Elas são conhecidas como as Irmãs Caminhantes, pois ministram à comunidade fora e dentro do convento.
Hoje, depois de 146 anos, chegou a hora de o pequeno grupo de freiras, a maioria delas aposentada, sair do convento. A liderança de sua ordem, as Irmãs da Graça (Sisters of Mercy), decidiu fechar o local e espalhar as 38 freiras em outras casas e instalações de repouso, ao perceber que custaria mais de US$ 20 milhões consertar os sérios problemas estruturais e de acessibilidade do edifício que parece uma fortaleza.
Essa foi uma temporada de decepções e raiva para essas mulheres, que pensavam que a casa-mãe seria seu último lar e as irmãs, suas companheiras constantes. Elas, que salvavam crianças perdidas, hoje se sentem órfãs.
"É doloroso em muitos aspectos", disse a irmã Francene Horan, que veio para o convento em 1950 para ser professora de jardim da infância. "Um prédio é uma coisa. Isto é um lar, o lugar que você sabia que lhe daria um abrigo. É como dizer que seus pais morreram e você não tem mais casa."
Em um ritual que era impensável um ano atrás, elas se reúnem regularmente, em número cada vez menor, para se despedir das outras e partir para uma vida totalmente diferente.
As Irmãs da Graça, conhecidas como Irmãs Caminhantes porque trabalhar fora do convento era incomum para as freiras no século 19, estão no Brooklyn desde 1855, quando cinco jovens religiosas de Manhattan atenderam ao pedido do bispo John Loughlin para trabalhar com os pobres e os doentes. Conforme o trabalho das freiras cresceu, elas se mudaram em 1862 para o atual convento. Milhares de crianças viveram com as irmãs ao longo das décadas.
Mary Margaret McMurray tinha quase seis anos quando ela e sua irmã chegaram ao orfanato, depois que seus pais morreram de influenza em 1917. Ela ficou até se formar no colégio e conseguir um emprego de secretária. "O convento era tão grande", diz McMurray, hoje com 97 anos. "Havia tantas crianças lá, eu tinha muitas amigas, era muito agradável."
As mudanças nas políticas de assistência social na década de 1970 levaram a ordem a abrir casas de grupos, incentivar a adoção ou o cuidado provisório e a expandir os serviços para os sem-tetos e os deficientes mentais. Havia menos mulheres entrando na ordem, enquanto as irmãs envelheciam. O convento tornou-se sua casa de repouso.
A liderança da ordem percebeu nos últimos anos que o velho edifício apresentava obstáculos demais para pessoas idosas. Um estudo de engenharia feito em fevereiro recomendou amplas reformas no exterior, remoção de amianto e reconstrução dos alicerces. A irmã Christine McCann, presidente da ordem na região que inclui o convento, disse que o dinheiro necessário para os reparos seria melhor usado para financiar o trabalho social e educacional da ordem, que ainda tem cerca de 4.000 freiras nos EUA.
A irmã McCann sabe que a notícia foi dura e compreende a raiva que gerou. "É difícil quando uma comunidade tem de tomar decisões que afetam a vida de tantas pessoas", disse. "Mas estou surpresa com a reação das irmãs que vivem lá. Elas foram honestas com seus sentimentos, estavam bem em um minuto e não tão bem no seguinte. Mas sua fé é constante. Viver como uma irmã da Graça é dar passos que elas dão com coragem."


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