São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Índia usa incentivos para conter explosão demográfica

Por JIM YARDLEY

SATARA, Índia - Sunita Laxman Jadhav é uma vendedora que vai de porta em porta para oferecer a espera.
Ela percorre as ruelas enlameadas de vilarejos em seu sari branco de enfermeira, visitando casais recém-casados para lhes fazer uma proposta: esperem dois anos antes de engravidar, e o governo os agradecerá. E pagará.
"Quero contar a vocês sobre nosso pacote de lua de mel", começou Jadhav, que é auxiliar de enfermagem, numa visita domiciliar que fez recentemente a uma recém-casada em Satara, região agrícola do Estado de Maharashtra. Jadhav explicou que o governo distrital pagaria 5.000 rupias -cerca de R$ 187- se o casal aguardasse para ter filhos.
Persuadir casais a esperar é a estratégia empregada pela Índia para frear o crescimento populacional acelerado, que ameaça converter a demografia do país de trunfo em peso paralisante.
Com quase 1,2 bilhão de habitantes, a Índia é desproporcionalmente jovem; aproximadamente metade da população tem menos de 25 anos. Esse "dividendo demográfico" é uma razão pela qual alguns economistas preveem que o crescimento econômico da Índia possa superar o da China em cinco anos. A Índia terá uma força de trabalho enorme e jovem, enquanto a China enfrentará o ônus de sustentar um povo mais velho.
Mas, se a juventude é uma vantagem para a Índia, a dimensão de sua população impõe pressões crescentes sobre seus recursos e cria um desafio para um governo já ineficiente, que precisa ampliar a oferta de ensino e serviços.
A Índia é uma democracia insubmissa na qual o governo central definiu metas populacionais, mas onde governos estaduais fazem esforços separados para limitar o índice de natalidade. Alguns têm se disposto a fazer pouco.
Enquanto isso, os políticos nacionais têm hesitado em promover o controle demográfico desde uma reação pública irada contra um escândalo na década de 1970 envolvendo vasectomias forçadas.
Em agosto, o fato de o Parlamento indiano ter debatido a "estabilização demográfica" foi visto como sinal de progresso.
"Já é mais que hora de fazê-lo", opinou Sabu Padmadas, demógrafo da Universidade britânica de Southampton, que trabalhou na Índia. "Está mais que na hora de a Índia tomar medidas concretas."
O programa em Satara é um projeto piloto, uma entre várias iniciativas lançadas em pontos diversos do país e que empregam uma abordagem branda, procurando contestar costumes rurais arraigados, na tentativa de desacelerar o crescimento populacional.
Especialistas dizem que uma parcela grande demais de mulheres da zona rural se casa ainda adolescente, geralmente em uniões arranjadas, e logo tem filhos.
Autoridades de saúde locais lideram campanhas para coibir os casamentos de adolescentes e para promover o chamado "pacote lua de mel", de bônus em dinheiro, incentivando o uso de anticoncepcionais.
Distrito agrícola cercado de montanhas verdejantes, Satara tem 3 milhões de habitantes. Uma pesquisa de 1997 constatou que quase um quarto de todas as mulheres da região se casavam antes da idade mínima legal, 18 anos, e que aproximadamente 45% dos bebês e das crianças pequenas do distrito estavam malnutridos.
Em resposta, o distrito lançou uma campanha para reduzir o número de "noivas meninas", e mais de 27 mil pais assinaram acordos escritos comprometendo-se a não deixar suas filhas se casarem antes dos 18. Em alguns anos a idade média do casamento aumentou, e o índice de desnutrição infantil caiu. Mas, embora os casais demorassem um pouco mais para se unirem, eles geralmente tinham o primeiro filho no primeiro ano de casamento, seguido por um segundo pouco depois.
Assim, em agosto de 2009, Satara lançou o incentivo para os pais adiarem o nascimento de seus filhos. Até agora, 2.366 casais já aderiram ao programa.
"A resposta vem sendo boa", disse a médica Archana Khade, que trabalha no centro de saúde do povoado de Kahner. "Mas o dinheiro é uma consideração secundária. O importante são as perspectivas melhores de futuro."
O índice de natalidade em Satara caiu para cerca de 1,9 filho por família, em parte devido ao pacote de lua de mel, com muitas mulheres optando pela esterilização após o segundo filho. Alguns problemas persistem, como um desequilíbrio acentuado de gêneros em Satara e outras regiões da Índia, devido a um viés cultural em favor de filhos do sexo masculino.
Mas a ideia de esperar agrada a muitas mulheres. Uma recém-casada, Reshma Yogesh Sawand, 25, disse que ela e o marido pretendem esperar para ter um filho -e querem ter apenas um-, para que consigam poupar dinheiro e se mudar para uma cidade maior.
"Se eu tiver um filho só", disse Sawand, que faz um curso de computação e trabalha vendendo apólices de seguros, "poderei cuidar melhor dele".


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