São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Estilistas ecológicos não deixam retalhos para trás

Por STEPHANIE ROSENBLOOM

O design de "desperdício zero" se esforça para criar padrões de roupas que não deixam retalhos de tecido no chão da sala de corte. Isto não é um exercício de vanguarda maluca, mas uma maneira de eliminar milhões de toneladas de lixo por ano.
Profissionais da indústria de confecções dizem que cerca de 15% a 20% do tecido usado para produzir roupas acaba nos aterros sanitários dos EUA, porque é mais barato jogar fora do que reciclar os retalhos.
Um pequeno, mas apaixonado grupo de estilistas passou os últimos anos experimentando técnicas de design de desperdício zero, e algumas ideias começam a entrar na corrente dominante.
Em setembro, a Parsons the New School for Design de Nova York -que inspirou uma geração de futuros estilistas com a série de TV "Project Runaway"- vai oferecer um dos primeiros cursos de moda do mundo com desperdício zero.
O livro "Shaping Sustainable Fashion: Changing the Way We Make and Use Clothes" (Moldando a moda sustentável: mudando a maneira como fazemos e usamos roupas), de Alison Gwilt e Timo Rissanen, pioneiros do desperdício zero, será publicado em fevereiro pela Earthscan.
E uma exposição de moda nessa tendência será realizada na Nova Zelândia na próxima primavera e em Nova York no outono boreal seguinte.
"Claramente esta é uma ideia que chegou na hora", disse Sandra Ericson, fundadora e diretora do Centro de Design de Moldes, que estuda e ensina tendências históricas e atuais na produção de moldes em St. Helena, Califórnia.
Mas a ideia demorou um pouco para chegar aos EUA. Quase todos os estilistas avessos ao desperdício estão em outros países, como Mark Liu, Julian Roberts e Zandra Rhodes, no Reino Unido; Susan Dimasi e Chantal Kirby, na Austrália; McQuillan na Nova Zelândia; e Yeohlee Teng, que trabalha em Nova York, mas nasceu na Malásia.
Entre os que foram instrumentais para promover a mudança está Rissanen, um estilista finlandês que é o primeiro professor-assistente de design de moda e sustentabilidade na Parsons. O objetivo de seu curso?
Criar jeans que são tão próximos do desperdício zero quanto possível, mas também bonitos -o que não é tarefa fácil. Rissanen sabe disso em primeira mão. Ele já foi dono de uma etiqueta de moda masculina chamada Usvsu.
"Tive de aprender a desenhar de novo", disse Rissanen sobre suas primeiras incursões no desperdício zero. "O primeiro ano e meio foi de muita tentativa e erro."
Uma maneira de eliminar o desperdício é criar um padrão de roupas -com reforços, bolsos, golas e barras- que se encaixe como um quebra-cabeça.
Esses estilistas preferem certas técnicas de corte com nomes como "corte serrote" (Liu) e "corte de subtração" (Roberts). Rissanen colocou o seu em um blog, Zerofabricwastefashion.blogspot.com. Outro método é simplesmente não cortar o tecido, mas envolvê-lo diretamente no manequim e prender, fazer camadas e costurar.
Mas essas técnicas não tiveram muito êxito com os grandes fabricantes. "Todos eles estão mais ou menos experimentando", disse Simon Collins, reitor da escola de moda da Parsons, "mas acham difícil comprometer-se".
Isso ocorre em parte por causa de custos e da infraestrutura atual. Por exemplo, a largura padrão do tecido para a produção comercial de jeans é 60 polegadas (152 cm). Usar uma largura diferente poderia mudar o volume de desperdício, mas também exigiria a reformulação de uma linha de produção.
E, enquanto o design sustentável não custa necessariamente mais, reformular uma fábrica é evidentemente caro.
Mas Collins não desiste. "Somos ofendidos pelo desperdício de 15% de tecido", disse. "Acreditamos em um ótimo design. Mas não acredito em roupas que desperdiçam."


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