Escultura de manteiga vira fonte de energia

Por KENNETH CHANG

É possível produzir diesel de boa qualidade a partir de manteiga.
"Queríamos mostrar que isso podia ser feito", disse o bioquímico pesquisador Michael J. Haas, do Departamento de Agricultura dos EUA. Mas "é bizarro", reconheceu, falando da pesquisa publicada no "Journal of Agricultural and Food Chemistry".
A ideia surgiu com uma escultura de Benjamin Franklin, feita de 363 kg de manteiga.
Todos os anos, a Feira Agrícola da Pensilvânia encomenda uma obra feita de manteiga. Em 2007, os organizadores da feira pediram sugestões sobre o que fazer com a escultura após o fim do evento.
Michael Haas colaborou com a BlackGold Biofuels, pequena empresa de Filadélfia que desenvolveu um processo para produzir biodiesel combustível a partir de uma grande gama de gorduras não comestíveis, óleos e graxa.
"Manteiga rançosa é gordura", disse Emily Landsburg, executiva-chefe da BlackGold. Depois de desmontar a escultura, os pesquisadores derreteram a manteiga, tiraram a água dela e inseriram o que sobrou em seu processo de conversão química.
A estrutura de uma molécula de gordura, óleo ou graxa lembra uma água-viva. A "cabeça" é um composto conhecido como glicerina, e cadeias de ácidos graxos ficam pendurados da glicerina.
Na conversão, uma molécula de metanol substitui a glicerina como cabeça da molécula, resultando em diesel. O biodiesel já é feito facilmente a partir de óleo de cozinha, mas a BlackGold diz que seu processo é muito mais flexível em termos da gama de materiais que é capaz de converter em combustível e que o fato de as gorduras ficarem rançosas não atrapalha.
Os 363 kg de manteiga foram convertidos em 284 litros de um misto de biodiesel e óleo combustível. As glicerinas são colhidas para uso em usinas de tratamento de água de esgoto.
Os pesquisadores não propõem que os mais de 453 milhões de quilos de manteiga produzidos anualmente nos EUA sejam desviados para a produção de combustível.
"O custo da manteiga comestível é alto demais", disse Haas. Landsburg reconheceu: "O número de esculturas de manteira rançosa existentes nos EUA não deve ser grande".
Mas a empresa dela enxerga dejetos agrícolas, incluindo os de fábricas de laticínios, como uma fonte potencial de combustível. "Empreendemos o projeto para demonstrar como nossa tecnologia é robusta -mostrar que ela é capaz de lidar com dejetos de baixo nível de todo tipo", disse ela.
San Francisco acaba de construir uma usina de biodiesel que emprega a tecnologia da BlackGold -a primeira do tipo-, na esperança de converter em combustível o óleo raspado do fundo de frigideiras de restaurantes, mais sujo que o óleo de cozinha.
"Estamos fazendo testes de óleo sujo na usina neste momento", contou Tyrone Jue, porta-voz da comissão de empresas de serviços públicos da cidade. "Estamos otimistas quanto às chances de a usina entrar em funcionamento nos próximos dois meses."
Com o tempo, a usina poderá produzir 1.249 litros de biodiesel por dia a partir de 45.425 litros de água usada contendo gordura.
"Queremos fechar o ciclo na cidade", disse Jue. "Aquilo que você quer jogar fora vira um recurso."


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