São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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LENTE

Refeição ganha status de espetáculo

A comida não tem mais a ver apenas com sustento; é uma arte, um estilo de vida, uma oportunidade. E hoje é acompanhada da mais alta expectativa.
Os chefs, não mais atrás das portas fechadas da cozinha, são os curadores e artífices do espetáculo, e muitos deles têm mais que apenas comida em seus pratos.
Os chefs estão capitalizando a teatralidade da experiência gastronômica. Grant Achatz, do Alinea, em Chicago, trata o Next, seu novo restaurante, como um teatro e venderá ingressos para a inauguração no próximo semestre. Os comensais pagarão adiantado em seu site, e os ingressos vão de US$ 45 a US$ 75 para uma refeição de cinco ou seis pratos.
"Você pode entrar, sentar-se, iniciar sua experiência e, quando terminar, apenas levantar-se e sair", disse Achatz ao "New York Times".
Os museus querem que as pessoas fiquem lá. Percebendo que a comida fina se equipara à fina arte, museus de Paris a Nova York vêm requintando sua experiência gastronômica nos últimos anos, buscando o mesmo padrão de suas salas cheias de obras-primas.
Foi-se o tempo dos insípidos restaurantes com sanduíches pré-embalados. Pratos ambiciosos hoje combinam com decorações atraentes. Eric Fréchon está supervisionando o cardápio no Grand Palais em Paris; em Nova York, o restaurateur Danny Meyer vai dirigir um novo café no Whitney, e Gabriel Kreuther é o chef do The Modern, no Museu de Arte Moderna, com uma estrela no guia Michelin.
"Os visitantes são, ao mesmo tempo, mais entendidos e exigentes do que eram, e muitos esperam uma refeição memorável para completar seu dia", escreveu Larry Rohter no "Times".
E se você pudesse completar vários dias com refeições memoráveis? É possível, se for hóspede de um dos gastro-hotéis dirigidos por chefs na Espanha. Cerca de 6 milhões de pessoas embarcam em turnês gastronômicas, segundo o jornal "El País".
"Sejamos francos, os chefs são malucos por controle", disse ao "Times" Virginia Irurita, cuja agência de viagens Made for Spain atende esses turistas. "Eles sabem exatamente o que querem em termos de design e serviço, e sabem como treinar pessoal para alcançar isso todos os dias."
No Mas Les Cols, um hotel e restaurante na Catalunha, a chef Fina Puigdevall tem duas estrelas no Michelin. Perto de San Sebastián, o chef basco Pedro Subijana está construindo um hotel e spa no terreno de seu restaurante Akelarre, que tem três estrelas no Michelin. E na Extremadura está em construção o Atrio Hotel e Restaurant, dirigido pelo chef Toño Pérez e o sommelier José Polo.
Se o acesso íntimo aos chefs, dia ou noite, é o que os discípulos adoram, eles provavelmente também os acompanham no Twitter, que se tornou um espaço para os chefs ganharem renome e desenvolverem suas personalidades on-line. Os chefs estão twitando para promover pratos especiais e confrontar críticos e adversários, reportou o "Times".
"JoeDoe é um personagem que eu assumo on-line para manter meu nome na frente das pessoas", disse Joe Dobias, dono e chef do restaurante JoeDoe, em Manhattan. "Eu só preciso que elas venham ao restaurante, então minha comida falará por si só e eu poderei me calar."
A atenção minuciosa e as expectativas elevadas têm um preço.
"Eles querem que nós sejamos astros do rock, o que não tem nada a ver com o que fazemos na cozinha", disse Ryan Skeen, ex-chef do hoje fechado Allen & Delancey, em Nova York. "Mas, por outro lado, sejamos honestos, estamos ganhando o dobro do que costumávamos ganhar."

ANITA PATIL


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