São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Horta se converte em benefício corporativo


Em vez de receber aumento, que tal colher abobrinhas?

Por KIM SEVERSON
PURCHASE, Nova York - Na sede mundial da Pepsi, no Estado de Nova York, executivos se movem em meio a lustrosos corredores, mas a cinco minutos de caminhada dali fica a horta orgânica corporativa, onde planilhas e análises dão lugar a pés de manjericão e hortelã.
Os empregados podem escapar na hora do almoço para arrancar algumas ervas daninhas e, depois, levam a colheita para casa.
Como as companhias têm menos para gastar em aumentos, planos de saúde e ingressos para parques aquáticos, um novo tipo de benefício corporativo está virando moda: todas as cenouras e abobrinhas que o empregado conseguir cultivar.
No gramado da empresa, em caixotes postos no telhado ou em fumódromos desativados, esses pedacinhos corporativos de terra derivam da crescente atenção dedicada à sustentabilidade, e do interesse cada vez maior por jardinagem.
Mas refletem também uma economia que exige maneiraas mais criativas de contribuir com a saúde e o moral dos trabalhadores.
"É quase como se dissessem: 'É, não conseguimos lhe dar aumento e, pois é, os tempos estão difíceis, mas eis algo que podemos fazer para melhorar a qualidade da sua vida'", disse Bruce Butterfield, diretor de pesquisas da Associação Nacional de Jardinagem.
Não há números precisos, mas dezenas de empresas em várias partes dos EUA estão montando ou montaram recentemente os seus roçados. A instalação de uma pequena horta custa menos de US$ 1.000 a uma empresa. Não surpreende que o Google, o Yahoo! e a revista "Sunset" tenham hortas orgânicas. Afinal, eles ficam no Vale do Silício, onde a mão de obra tem quase tanta prática em compostagem de lixo quanto em programação de computadores.
Mas a tendência chega também a companhias mais tradicionais. Na sede das lojas de departamentos Kohl's, perto de Milwaukee, as hortas orgânicas fornecem verduras e legumes a um banco local de alimentos e são um lugar onde as crianças da creche da empresa podem brincar. Em Georgetown, no Kentucky, abundantes safras de abóboras e tomates crescem na fábrica da Toyota.
Só que nem sempre as pessoas aderem. É a mesma dinâmica que enche as geladeiras dos escritórios com embalagens vencidas de iogurte e almoços mofados.
Na Pepsi, a maioria dos canteiros está vazia e cheia de mato. A temperatura, dizem os jardineiros, anda tão baixa quanto o entusiasmo das pessoas.
No ano passado, quando a empresa dedicou um terreno do tamanho de duas quadras de tênis ao cultivo de pimenta e tomate, 200 dos 1.450 empregados se apresentaram, do pessoal da correspondência até administradores de médio escalão. Neste ano, o número de voluntários minguou para 75, e muitos nem começaram a preparar seus canteiros.
Por isso, recentemente Anu Malhotra, da divisão de serviços alimentícios, colocou suas luvas de jardinagem e foi arrancar ervas daninhas de quadradinhos de terra que nem eram dela. "Os estrategistas corporativos tinham dois lotes no ano passado, mas estão sempre viajando, então meio que assumimos." Na Aveda, que oferece massagem e lanchonete orgânica na sua sede, perto de Minneapolis, a horta é uma oportunidade para que os 700 empregados façam uma pausa em suas tarefas e levem produtos frescos para casa. Os funcionários pagam US$ 10 por "safra". Pegar na enxada é opcional, mas incentivado.
"Parece trabalho, mas é um tipo diferente de trabalho em relação à nossa jornada diária", disse Peggy Skinner, que pressionou pela instalação da horta.
As lavouras corporativas não são necessariamente reflexo de uma mentalidade mais agrária nas empresas americanas, disse Peter Cappelli, diretor do Centro para os Recursos Humanos da Escola Wharton, na Universidade da Pensilvânia. Isso tem mais a ver com a popularidade da jardinagem.
Em muitos casos, grupos de empregados pediram as hortas. Às vezes, gerentes as sugeriam para ajudar a abastecer um banco de alimentos, ou como atividade para o fortalecimento das equipes. A verdade é que construir juntos treliças para tomates ajuda a apagar as hierarquias.
"Isso retira a política do trabalho", disse Sheila Golden, gerente sênior da Pepsi cuja equipe cultivou aqueles que todos concordam terem sido os melhores tomates do ano passado. "Todo o mundo está no mesmo nível [hierárquico] na horta."
Quem também sai ganhando é a lanchonete. A rede de produtos eletrônicos Best Buy plantou uma horta na sua sede, em Richfield (Minnesota), para melhorar a comida servida aos seus 4.600 empregados.
"Eu realmente via isso como 'que diferença um pouco menos de arbustos faz para os meus empregados? -não muita'", afirmou Ian Ellis, diretor de instalações corporativas. "Mas ter ervas frescas e tomates frescos fez uma grande diferença."


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