São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Turbina submersa quer converter marés em megawatts


Energia submarina ainda está décadas atrás da eólica

Por HENRY FOUNTAIN
EASTPORT, Maine (EUA) - Quando Christopher Sauer para diante do turbilhão de água da Passagem Oeste e descreve a visão da sua empresa para a energia alternativa, ele não vê um exército de turbinas eólicas nem fileiras de células solares.
Na verdade, ele não vê nada que o impeça de enxergar o Canadá, no outro lado do canal. Porque, se seus planos vingarem, várias turbinas irão operar debaixo d'água, gerando energia para uma subestação em terra.
Sua empresa, a Ocean Renewable Power, é uma das várias jovens companhias que tentam desenvolver a energia das marés -turbinas hidrelétricas que giram com a corrente provocada pelo vaivém das marés, acionando geradores que produzem eletricidade limpa e, esperam essas empresas, razoavelmente barata. "Não vamos superar as velhas usinas a carvão no vale do Ohio", disse Sauer, que tem décadas de experiência no desenvolvimento de usinas de cogeração e de outros projetos energéticos. "Mas seremos competitivos em relação a qualquer nova fonte energética, inclusive combustíveis fósseis."
É uma meta ambiciosa, mas Sauer, presidente e executivo-chefe da empresa, tem ao seu lado pelo menos a gravidade e a energia rotacional da Terra.
No mundo todo, as marés vão e vêm duas vezes por dia. Em lugares como Eastport -ex-"capital da sardinha", no nordeste dos EUA, na boca da baía de Fundy, cercada por canais profundos como a Passagem Oeste-, a energia das marés faz mais sentido, ao menos no momento.
Ali as marés são muito altas, e a corrente é forte, atingindo cerca de 6 nós (11,1 km/h) no auge do seu fluxo, quatro vezes por dia. "Temos a melhor corrente de maré da Costa Leste [dos EUA]", disse Sauer. Tirar energia das marés não é uma ideia nova. Alguns projetos já estão em operação no mundo todo, sendo um deles, na França, há mais de quatro décadas. Mas eles representam uma abordagem mais antiga, que usa barragens para conter a maré alta. Quando a maré baixa, a água é solta pelas turbinas, como numa hidrelétrica convencional.
A própria cidade de Eastport teve um enorme e elaborado projeto de barragem, proposto na década de 1930, durante o governo de Franklin Roosevelt, que conhecia as marés locais por ter passado muitos verões numa ilha próxima. O projeto foi abandonado após um ano.
A construção de barragens é extremamente custosa e pode criar vários problemas ambientais. O projeto de Eastport, por exemplo, teria engarrafado duas baías, alterando para sempre o ecossistema da região. Sauer e outros dizem que colocar turbinas diretamente na corrente é potencialmente muito mais barato e ambientalmente sensato.
Mas ninguém sabe com certeza, porque a abordagem submarina ainda está em sua infância. Enquanto no mundo há alguns projetos com correntes de marés, nos EUA existem poucos deles em desenvolvimento -como o da Verdant Power, no rio East, em Nova York, onde também há uma forte corrente de maré.
As tecnologias ainda estão sendo testadas, e há questões ambientais por responder. Uma usina de marés que alimente uma rede elétrica significativa ainda vai demorar pelo menos alguns anos.
Sob muitos aspectos, a energia das marés está num estágio similar ao da energia eólica há duas ou três décadas. "Foi exatamente assim que a eólica começou, com projetos bastante pequenos", disse Robert Thresher, pesquisador do Laboratório Nacional de Energia Renovável, do Colorado, que após anos de pesquisas com a energia eólica agora estuda a chamada hidrocinética marinha, um termo que abrange a energia das marés, das ondas e do calor dos oceanos. "Eles aprenderam a operar e a manter suas máquinas. Foi algo de tentativa e erro."
Agora, grandes e eficientes turbinas eólicas estão instaladas em vastas fazendas. Com a energia das marés, disse Thresher, "vocês verão exatamente o mesmo tipo de evolução" tecnológica. E pode não demorar, disse Tim Ramsey, funcionário do Departamento de Energia dos EUA, que há apenas dois anos começou a colocar recursos em projetos envolvendo as marés.
"Não acho que estejamos 20 ou 30 anos atrás de onde a [energia] eólica está hoje", disse Ramsey. "Podemos levar só uns dez anos para alcançar." Para ele, computadores e outras ferramentas de pesquisa estão bem melhores, e modelos informatizados mais precisos simulam o desempenho e a eficiência das turbinas.
"Nossa expectativa é de que haja ali suficiente potencial para tornar [o projeto] não só factível como econômico", agregou.
Os pesquisadores das marés aprenderam bastante com a energia eólica. A água flui de modo parecido com o ar, mas, por ser mais densa, a água contém bem mais energia por determinado volume. Isso lhe dá uma vantagem sobre o vento, já que as turbinas podem ser bem menores, disse Paul Jacobson, gerente de projeto do Instituto de Pesquisas da Energia Elétrica.
Em geral, entretanto, os ventos (e o Sol) oferecem potencialmente bem mais energia do que as marés. O Instituto de Pesquisas da Energia Elétrica estima que haja nos locais já estudados -em áreas com marés poderosas, como o Maine, o Pacífico Noroeste e, acima de tudo, o Alasca- um potencial de cerca de 13 gigawatts.
Já o atual potencial estimado para a energia eólica nos EUA é pelo menos centenas de vezes superior, e já há pelo menos 35 gigawatts de capacidade instalada.
Mas, assim como a energia eólica de alto-mar, a energia das marés seria produzida perto das costas, e é nas costas que as pessoas estão.
Além disso, estuários se mostram locais promissores para a energia das marés, particularmente se a tecnologia melhorar e mais energia puder ser gerada em correntes mais lentas.
"O apelo não está em ser grande, mas em ser livre de carbono e estar aí", disse Thresher. "Não é preciso construir linhas de transmissão."


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