São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Plano sugere abastecer centros de dados com biogás

Por ASHLEE VANCE
Os criadores de gado dos EUA poderão em breve se descobrir atuando no ramo dos computadores, com o esterco de suas vacas possivelmente fornecendo energia para mover os enormes centros de dados de empresas como Google e Microsoft.
Embora a ideia não seja evidente de imediato, ela tem sua origem em duas tendências: a construção de centros de computação em locais mais rurais e os esforços de pecuaristas para dar um fim útil aos dejetos de seus animais, convertendo-os em combustível.
Engenheiros da HP disseram, em uma pesquisa, que um criador de gado leiteiro corretamente equipado poderá arrendar terras e energia a empresas de tecnologia e recuperar em dois anos seu investimento em sistemas de aproveitamento de dejetos.
"Há uma relação simbiótica entre tecnologia de informação e esterco", disse Chandrakant D. Patel, diretor do laboratório de tecnologia sustentável da HP. "E o fato de ter esses centros de dados instalados localmente dará nova oportunidade a fazendeiros."
A tendência histórica das empresas tem sido de construir esses grandes centros de computação -chamados frequentemente de fazendas de servidores- dentro de ou perto de grandes cidades e indústrias. Porém, as empresas vêm tendo dificuldade em encontrar eletricidade e terrenos a preços acessíveis.
Mas a ascensão das redes de transferência de dados mais velozes oferece às empresas a chance de se deslocar para mais longe dos grandes centros e, mesmo assim, receber as informações com rapidez. Por isso, empresas como Google, Yahoo!, Amazon e Microsoft estão em uma corrida para encontrar lugares nos EUA com muita eletricidade e muita terra.
O resultado é que mais centros de dados têm sido montados em Estados dos EUA como Washington, Texas, Iowa e Oklahoma. É melhor ainda quando os locais escolhidos ficam próximos de fazendas de gado.
Para produzir biogás, um fazendeiro precisa comprar equipamentos que submetem o esterco a um processo de digestão anaeróbica, resultando em grande quantidade de metano que pode ser empregado como gás natural ou como substituto do diesel.
"Uma vaca média produz dejetos suficientes em um dia para alimentar uma lâmpada de 100 watts", disse Michael Kanellos, editor-chefe da firma de pesquisas e edição Greentech Media.
Pelos cálculos da HP, 10 mil vacas poderiam alimentar um centro de dados de 1 megawatt, o equivalente a um centro de computação pequeno usado por um banco.
Kanellos acompanha o desenvolvimento dos setores de centros de dados e tecnologia verde e concordou que a ideia tem potencial. Os equipamentos de computação produzem muitos resíduos sob a forma de calor, e os sistemas necessários para criar biogás requerem calor. Logo, há a possibilidade de um círculo virtuoso. "As vacas nunca poderão substituir a energia hidrelétrica usada por muitos desses centros de dados", disse. "Mas há interesse pelo biogás, e isso oferece outra maneira de fazer o esterco render." Num primeiro momento, muitos fazendeiros tentaram criar suas próprias usinas, mas descobriram que é mais econômico vender o esterco a uma produtora de biogás.
Rocky C. Costello, que fornece serviços de design para usinas do tipo, avisou que essa forma de energia alternativa encerra alguns desafios práticos. "Ela se torna menos atraente à medida que o preço do gás natural cai. O gás é fácil demais de se obter."
Patel contou que seu avô, na Índia, usa esterco de vacas como combustível em sua aldeia. A esperança é que uma versão mais moderna da prática dê apoio à ampliação da infraestrutura tecnológica da Índia. Segundo Patel, um criador de gado leiteiro gastaria cerca de US$ 5 milhões para adquirir o equipamento para o sistema de biogás e mais US$ 30 mil por ano para sua operação. A HP ainda não construiu seu sistema próprio de queima de esterco, mas avalia a possibilidade de construir um para centros de dados na Califórnia ou no Texas, agregou.


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