São Paulo, segunda-feira, 31 de agosto de 2009

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Gastronomia reconforta banqueiros

Por JOHN TAGLIABUE

ZURIQUE — Os banqueiros em Zurique, centro financeiro suíço, estão se esforçando para superar uma sensação de pânico.
Alguns bancos locais —caso do maior deles, o UBS— tiveram perdas enormes e foram obrigados a demitir milhares de funcionários. Outros viram seus lucros encolherem, acompanhando a queda do mercado acionário.
Estrangeiros ricos, como russos, por exemplo, reduziram a frequência de suas visitas para checar suas contas bancárias anônimas, e os efeitos estão sendo sentidos nas vendas das lojas de luxo da glamourosa Bahnhofstrasse. Para completar, o acordo recente —pelo qual o UBS concordou em revelar informações sobre clientes americanos suspeitos de utilizar contas suíças para sonegar impostos— enfraqueceu a longa tradição suíça de sigilo bancário.
Mas os problemas não estão evidentes no Il Giglio, cujas mesas ficam repletas seis noites por semana, enquanto alguns dos mais sofisticados restaurantes de Zurique frequentemente se veem vazios. “Sempre temos muito movimento”, disse Vito Giglio, 52.
Referindo-se a seus clientes banqueiros, comentou: “Mesmo quando são demitidos, eles continuam a ser pagos por seis meses e recebem pacotes gordos de rescisão. Eles continuam a vir para cá.”
Os banqueiros têm assistindo às transformações em seu setor e, em número surpreendente, estão buscando conforto na cozinha italiana. Esse apetite repentino por pratos italianos parece dever-se a seu poder de funcionar como “comfort food”, à medida que os bancos suíços foram sentindo os efeitos da crise financeira.
Desde o início do ano passado, quando a recessão chegou a Zurique, o desemprego no setor dos restaurantes aumentou mais de 10%, disse Bruno Sauter, diretor do departamento de trabalho da cidade. Mas Daniel Muller, diretor de gastronomia do Bindella, um dos maiores grupos de restaurantes de Zurique, disse que o movimento nos 16 restaurantes italianos do grupo caiu menos de 2% no ano passado.
Os restaurantes não italianos admitem que estão enfrentando a concorrência da culinária mediterrânea. Em outdoors espalhados por Zurique, o McDonald’s exibe um cheeseburguer suculento, anuncia seu preço, US$ 2,25, e acrescenta: “Quatro tortellini ou isto”.
Um quarto de milhão de suíços trabalha no setor financeiro, cerca de 40% deles na região de Zurique. Mesmo assim, banqueiros conhecidos têm sido vaiados e expulsos de restaurantes suíços tradicionais.
Os restaurantes que não estão rejeitando os banqueiros são os italianos, que desbancaram os chineses para assumir o lugar de maior grupo de restaurantes de Zurique que não serve pratos suíços.
Vito Giglio não se surpreende com a popularidade repentina da culinária italiana entre os banqueiros. A culinária italiana, disse ele, é tranquilizadora, como também o é outra especialidade italiana: “[A comida] é como a música de um tenor”.


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