São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Paquistão corteja Pequim

Por JANE PERLEZ

ISLAMABAD, Paquistão - Com a deterioração nas relações com Washington depois da morte de Osama bin Laden, em maio, os líderes do Paquistão se voltaram para a China, que é vista aqui como uma amiga de todas as horas e como uma alternativa aos problemáticos e autoritários americanos.
Ao longo dos anos, Pequim enviou assistência militar ao Paquistão, ajudou na criação do programa paquistanês de armas nucleares e cooperou em questões de inteligência.
As sólidas relações sino-paquistanesas são vistas como uma proteção contra a Índia, rival de ambas as nações. Nos últimos meses, autoridades de Islamabad têm ido a Pequim atrás de investimentos em armas e em uma base naval, e de acordos comerciais.
Mas, a capacidade paquistanesa de usar a China como contraponto aos EUA pode ser mais limitada do que parece, e o Paquistão corre o risco de ser relegado à periferia do mundo quando os EUA encerrarem a guerra no Afeganistão e reduzirem a sua presença na região. Apesar de sua ascensão e de suas ambições globais, a China dificilmente irá suplantar os EUA no Paquistão, segundo avaliação de especialistas chineses e de autoridades paquistanesas e americanas.
Embora o recente flerte de Islamabad com Pequim tenha sido recebido cordialmente, os paquistaneses saíram com as mãos menos cheias do que esperavam.
"Nós, como país, talvez não figuremos de forma tão proeminente quanto acreditamos no esquema de coisas da China", disse o jornal paquistanês "The News" num editorial em outubro.
"Islamabad pode ser valiosa para Pequim em termos estratégicos, e isso nos leva à cooperação nuclear civil e militar, mas será o Paquistão importante para a China em termos econômicos e políticos também?"
Talvez não. Os dois países compartilham o interesse de conter a Índia. A China pouco parece fazer para desencorajar uma corrida armamentista do Paquistão com a Índia.
Mas o interesse central da China é outro -sua concorrência com os EUA e a Ásia Oriental, segundo especialistas. A China mostra pouco apetite por escorar a combalida economia paquistanesa, e o comércio bilateral continua anêmico -quase US$ 9 bilhões, sendo só US$ 1 bilhão da parte do Paquistão.
Enquanto isso, o comércio da China com a Índia disparou de US$ 2,9 bilhões em 2000 para US$ 61 bilhões no ano passado. E, a exemplo dos EUA, a China se preocupa com a incapacidade paquistanesa em controlar o terrorismo, embora o foco de Pequim seja quase exclusivamente o movimento separatista da etnia uigur, que age a partir do Paquistão para tentar desestabilizar a vizinha região chinesa de Xinjiang.
Já em projetos de importância estratégica imediata a China segue adiante -o que inclui a construção de dois novos reatores nucleares na província do Punjab.
Nem o Paquistão nem a China fazem segredo do fato de que os novos reatores foram uma resposta à aliança nuclear EUA-Índia, em mais um sinal de que, por enquanto, a China usará o Paquistão para uma pitada de interesses estratégicos, mas não muito mais que isso.


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