São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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População russa reprova ajuda à Tchechênia

Putin deve explicar vida luxuosa de líder do norte do Cáucaso

Por MICHAEL SCHWIRTZ

MOSCOU - Doze anos atrás, um burocrata pouco conhecido chamado Vladimir Putin começou uma guerra contra a Tchetchênia, prometendo esmagar uma feroz rebelião e devolver o território ao controle do Kremlin. Em questão de meses, ele foi eleito presidente da Rússia, e depois de mais de uma década chegou perto de neutralizar a rebelião tchetchena.
Mas enquanto ele se prepara para tentar seu segundo mandato como presidente, no ano que vem, a Tchetchênia poderá se tornar um problema.
O ressentimento sobre os generosos subsídios pagos à Tchechênia e a outras regiões do norte do Cáucaso, de maioria muçulmana, para garantir a lealdade depois da guerra provocou um movimento de protesto dedicado a isolar financeiramente a região. A raiva é forjada não apenas pela constante violência separatista no norte do Cáucaso -e ataques extremistas em Moscou-, mas também pelas descaradas demonstrações de riqueza das elites regionais.
Em 5 de outubro, para seu 35o aniversário, o líder da Tchechênia, Ramzan Kadyrov, fez uma comemoração reluzente com uma trupe de acrobatas estrangeiros e uma apresentação da famosa violinista britânica Vanessa-Mae.
Uma pesquisa de opinião realizada em maio pelo Centro Levada, uma agência de pesquisas de Moscou, revelou que 51% da população não se importariam se as fronteiras do país fossem redesenhadas para excluir a Tchechênia, porcentagem maior do que em qualquer momento da liderança de Putin.
Ele foi obrigado a defender publicamente suas políticas na região. Alcançou uma relativa estabilidade na Tchechênia investindo em Kadyrov, um ex-rebelde que empregou táticas brutais para controlar a insurgência local.
Os líderes russos dizem que a região rica em recursos é fundamental para a integridade territorial da Rússia, e vale os bilhões de dólares e centenas de milhares de vidas gastos para mantê-la.
Nos últimos anos, Moscou financiou mais de 90% do orçamento da Tchechênia, segundo o Ministério das Finanças da Rússia. Para Putin, está claro que o norte do Cáucaso tem uma importância especial.
"O norte do Cáucaso não é um lastro, mas uma das pérolas da Rússia", disse Putin em agosto. "Através dele, nós afirmamos e defendemos uma parte significativa de nossos interesses geopolíticos nesta parte do mundo."
Para muitos, porém, as políticas regionais de Putin levaram a um impasse dispendioso. "Nossa infraestrutura está degradada, a população está empobrecendo, e juntamente com muitas outras coisas ruins vemos uma quantidade enorme de tributos sendo pagos para o Cáucaso", disse no mês passado Konstantin Krylov, organizador de recentes manifestações anti-Cáucaso.
A maioria dos adversários da ajuda à região se autodescrevem como nacionalistas. Mas suas opiniões parecem ter começado a ganhar maior alcance. Eles indicam que embora ainda haja regiões da Rússia central que carecem de água encanada e eletricidade, Kadyrov supervisionou o boom da construção na Tchechênia, incluindo um estádio de milhões de dólares e uma enorme mesquita.
Também há a questão da frota de carros de luxo de Kadyrov, seu zoológico privado e seus cavalos de corrida. Perguntado sobre a origem essa riqueza, Kadyrov disse a jornalistas: "de Allah".
Enquanto isso, o desemprego em partes do norte do Cáucaso alcança 55%, segundo a administração do Distrito Federal do Norte do Cáucaso.
"Vemos uma população absolutamente empobrecida", disse Aleksei Navalny, um ativista anticorrupção, "e alguns homens que dirigem Mercedes que custam centenas de milhares de dólares. Isso está provocando tensões".
As imensas disparidades sociais, na verdade, estão entre os motivos dos atentados suicidas que continuam infestando a região, segundo especialistas. E Moscou continua sendo um importante alvo dos extremistas da região, com ataques mortíferos a um aeroporto e ao sistema de metrô nos últimos anos.
"A Rússia efetivamente perdeu a guerra", disse Andrei Piontkovsky, um analista de Moscou. "Além disso, a Rússia paga indenizações como o lado perdedor."
"O mais assustador é que não há como escapar dessa situação. É algo que Putin criou passo a passo ao longo de 12 anos", disse.


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