São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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Um novo debate ambiental: o destino das baterias de carros

Como fazer fazer a reciclagem da nova geração de carros

Por JAMES KANTER

HOBOKEN, Bélgica - Embora sejam unânimes em exaltar os benefícios ambientais dos carros elétricos, as fábricas de automóveis estão divididas quanto à melhor forma de descartar, reciclar ou reaproveitar as caras baterias que os alimentam.
Empresas envolvidas na "mineração urbana" -a extração de metais valiosos a partir de produtos eletrônicos descartados- já começaram a construir uma infra-estrutura para lidar com a enxurrada de baterias parcialmente esgotadas. A consultoria Frost & Sullivan estima que elas serão 500 mil por ano até o começo da década que vem.
"Não há carro verde sem reciclagem verde", disse Ghislain van Damme, gerente da Umicore, uma das maiores recicladoras de metais tirados do lixo eletrônico. Empresas que não se planejam para a reciclagem podem sofrer "danos à marca", disse ele, além de possíveis multas e processos caso as baterias acabem sendo incineradas ou descartadas de forma ilegal.
Em muitos casos, as montadoras ficarão responsáveis pelo descarte final das baterias -mesmo as que forem fabricadas por terceiros- por causa de leis mais rígidas relacionadas à reciclagem, especialmente na Europa.
Há, no entanto, o fator custo. As baterias mais novas e potentes, de lítio, são também menos valiosas para a reciclagem que as anteriores. O lítio é abundante embora seus principais produtores, em países como Chile e Bolívia, estejam distantes dos centros automobilísticos.
"Você pode contar com um constante e crescente apetite por metais, incluindo o lítio", disse P. Aswin Kumar, analista da Frost & Sullivan. "Mas o lítio ainda custa cerca de cinco vezes mais para reciclar do que para extrair, então as leis ambientais irão impulsionar a reciclagem."
As baterias para carros elétricos e híbridos são bem mais potentes e maiores do que as de chumbo, pesando até 250 kg. De fabricação complexa, elas também podem ser a peça mais cara do veículo. Nelas, a energia continua armazenada mesmo em baterias parcialmente descarregadas, e há risco de choques e incêndio em caso de manuseio inadequado.
A Toyota tem criado parcerias na Europa e nos EUA para reciclar baterias. As de alguns modelos Prius vendidos nos EUA são levadas para o Japão, onde a reciclagem é mais eficiente.
A Honda reciclou em 2009 cerca de 500 baterias de híbridos mais antigos, mas ainda está explorando métodos de descarte para os novos modelos Insight e CR-Z. A General Motors (do Chevrolet Volt) e a Nissan (do Leaf) já têm acordos com empresas de energia para desenvolver formas de reaproveitar as baterias, talvez para o armazenamento de energia eólica e solar.
Governos também estão se envolvendo nisso. Os EUA emprestaram US$ 9,5 milhões para que a Toxco construa uma recicladora em Ohio. A Alemanha deu US$ 8,2 milhões à Chemetall (parte de um consórcio que inclui a Volkswagen e sua subsidiária Audi), para cobrir um terço da construção de uma usina na Baixa Saxônia.
No Reino Unido, o governo destinou US$ 813 mil a um projeto semelhante, de um grupo de empresas que inclui a Axeon, fabricante de baterias para carros.
Em Hoboken, perto da Antuérpia, a nova usina da Umicore é capaz de recuperar praticamente todos os elementos das baterias, incluindo cobalto, níquel, lítio e até metais terras-raras.
Um intenso calor arranca as coberturas plásticas e cria um plasma (gás a temperatura ultraelevada) para separar os metais dos outros materiais. O processo resulta em pedaços de uma liga metálica retorcida, do tamanho de troncos de árvores, alguns pesando mais de duas toneladas.
A Umicore então refina esses blocos para obter metais que são revendidos a fabricantes de baterias automotivas, turbinas eólicas e outros produtos tecnológicos. Ela também recupera uma substância empedrada que a Rhodia refina a fim de obter terras raras. Por causa das restrições da China à exportação dessas matérias primas, muitas empresas estão interessadas em fazer o mesmo.
Van Damme disse que a Umicore tem hoje capacidade para reciclar 150 mil baterias por ano, mas pode chegar a mais de 1 milhão. Até agora, a única empresa automobilística a fazer parceria com a Umicore foi a Tesla Motors, da Califórnia, cujo Roadster custa a partir de US$ 100 mil.
A Nissan formou com o conglomerado japonês Sumitomo uma joint venture a fim de usar baterias velhas para armazenar energia de fontes renováveis.
E a GM está colaborando com a empresa suíça de engenharia ABB para achar novos usos para as baterias do Volt.


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