São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Para veteranos cadeirantes, uma chance de voar

Nova liberdade para militares deficientes que entendem o risco

Por A.G. SULZBERGER

Durante gerações, os militares que voltavam da guerra com deficiências causadas por ferimentos em combate encontravam opções limitadas de recreação atlética. Mas hoje os veteranos deficientes voltam a praticar as atividades emocionantes que apreciavam antes de serem feridos.
Conforme expandem a gama dos esportes adaptados ao surfe, escalada de montanhas e rafting em corredeiras, esses veteranos estão provando que uma cadeira de rodas não exige necessariamente que seu ocupante se mantenha ao nível do chão. "Eles estão fazendo coisas que não considerávamos possíveis dez anos atrás", disse Kirk Bauer, diretor-executivo da Esportes Adaptados dos EUA.
Quando Bauer perdeu uma perna no Vietnã, a organização tinha uma seção que ensinava um esporte -esqui na neve; hoje tem mais de 100 seções e oferece 30 esportes. "Eles amam a velocidade, amam o desafio e o risco", disse. "E estão realmente melhorando suas capacidades."
Neste verão, cinco militares veteranos paraplégicos, nenhum deles ferido em combate, chegaram a Ketchum para aprender paraglider, esporte em que o piloto decola a pé, depois se senta em um arreio embaixo de um paraquedas.
Esses veteranos foram os primeiros ensinados a usar um novo equipamento chamado Phoenix, com uma cadeira de rodas no lugar do arreio. "Eu sabia que poderia fazer isso com o equipamento certo, mas simplesmente não sabia se alguém já tivera coragem suficiente para tentar", disse Erik Burmeister, 37, que ficou paraplégico em um acidente de motocicleta.
Depois de seu ferimento, Burmeister aprendeu a esquiar e a mergulhar. Um dia ele achou na internet informações sobre o programa Piloto Capaz, um grupo que organizava o primeiro curso de paraglider em cadeira de rodas. Ele foi um dos cinco escolhidos entre mais de 100 candidatos.
"Todos nós aceitamos que nossa mobilidade é limitada", disse ele. "Em todos esses esportes o movimento não exige esforço. A sensação de liberdade é simplesmente incrível."
No final do treinamento de quatro dias, quatro dos cinco alunos haviam tropeçado ou rolado no pouso; o quinto caiu em uma decolagem abortada.
Os instrutores voluntários, assim como engenheiros da Universidade de Utah, tomavam notas enquanto os estudantes sugeriam modificações nos métodos de ensino e aperfeiçoamentos no desenho da cadeira de rodas.
"Sim, o paraglider tem um risco inerente", disse Mark Gaskill, um veterano que iniciou o programa Piloto Capaz. "A vida é perigosa. Esses caras entendem os riscos. Eles entendem o que um ferimento pode fazer. Mas tênis na cadeira de rodas não é para todo mundo." Todo dia os estudantes eram levados em voos duplos com instrutores voluntários e conduziam os paragliders.
"Eu não pensava que um dia voaria de novo", disse Anthony Radetic, 32, um ex-piloto de helicóptero que quebrou a coluna em um acidente de moto.
Durante anos ele ficou envergonhado demais para sair de casa. Mas isso mudou quando ele foi apresentado aos esportes adaptados jet-ski, esqui na neve e corrida de handcycle. Ele até adaptou sua moto para que pudesse conduzi-la.
O Departamento de Assuntos de Veteranos apoia os esportes radicais e oferece dinheiro para equipamentos e treinamento. Por mais arriscadas que sejam as atividades, são consideradas preferíveis ao consumo de álcool e à depressão que muitas vezes acompanham os ferimentos que modificam a vida.
"Usamos isso como um instrumento para mostrar a eles que podem fazer qualquer coisa que quiserem", disse Richard Stieglitz, supervisor de saúde física e bem-estar do Projeto Guerreiro Ferido.
Ernie Butler, 59, vestiu um capacete para seu primeiro voo na Phoenix. A última vez em que o usou foi 16 anos antes, "no dia em que eu caí". Seu paraquedas ficou emaranhado no de outro militar; na queda, sofreu 220 fraturas. Então, com um grito feliz, desceu a encosta e decolou.


Texto Anterior: Saúde & Boa forma
Pequenos truques para obter o melhor

Próximo Texto: Cronômetro: o novo item da escalada
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.