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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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A Petrobras é nossa

Depois de ensaiar a transformação do Sete de Setembro em "festa popular", o governo investe pesado na comemoração do cinquentenário da Petrobras.
O pontapé inicial ocorreu nos jornais de sexta (3/10, data do nascimento da empresa): eles se encheram de anúncios de estatais, a começar pela aniversariante -que pagou para ter encartes cobrindo algumas capas.
Nada contra a abundância de publicidade, ainda mais num cenário de crise -admitido, aliás, oficialmente pela mídia, por meio de suas entidades, com a emissão, na semana, de um documento no qual o setor reclama para si, do BNDES, uma política específica de financiamento.
O que cabe ponderar, aqui, é até que ponto a avalanche do patriotismo estatal contagiou (ou não) o conteúdo editorial dos meios de comunicação.
Os três maiores jornais de circulação nacional -Folha, "Estado" e "Globo"- publicaram na sexta cadernos especiais para lembrar a data (veja no quadro, também com os encartes publicitários baseados em edições de 1953 desses mesmos jornais ).
Tudo bem: impossível deixar passar a data sem algo diferenciado, tratando-se da maior empresa do país. O problema é que todos eles, cada qual a seu modo, deixaram a desejar em matéria de distanciamento crítico.
"Estado" e "Globo" fizeram edições em tom excessivamente laudatório, de enaltecimento, a começar pelos títulos, boa parte deles semipublicitários.
Em compensação, incluíram -principalmente o "Globo"- reportagens sobre as mortes ocorridas em acidentes com plataformas (destaque para a tragédia da P-36, em 2001), além de aspectos polêmicos relacionados à atuação do Petros (fundo de pensão dos funcionários da estatal) e à administração da empresa (como a terceirização de funcionários, que, alega-se, fragilizou a segurança do trabalho).
A Folha deu a seu caderno uma temperatura não-festiva, um linguajar mais sóbrio, menos empolgado -o que lhe garantiu dimensão crítica. Também enfatizou, por exemplo, a instrumentalização política e econômica da empresa por diferentes governos ao longo de meio século.
Porém, "apagou" da história as mortes, não mencionou o Petros nem as terceirizações.
Seria precipitado fazer ilações generalizantes sobre os motivos que teriam supostamente guiado o comportamento de cada jornal nesse episódio.
Mas não custa relembrar, com base nele, que, especialmente em tempo de vacas magras, todo cuidado será pouco para manter uma mídia forte e independente.


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