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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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Morto é morto

Cresce a dramaticidade da situação das tropas anglo-americanas no Iraque, que esperavam deixar o país em breve.
Fala-se em "guerra de guerrilha" por parte de resistentes pró-Saddam Hussein e em permanência das forças de ocupação, agora, por tempo ilimitado.
Toda a imprensa, internacionalmente, fez bastante barulho em torno do fato de que o número de soldados americanos mortos na Guerra do Iraque, contando o período pós-conflitos (oficialmente encerrados em primeiro de maio), já superou o da Guerra do Golfo (1991).
Não é pouca coisa, em especial para as pretensões de reeleição do presidente George W. Bush. Ainda mais se a isso se somam as dificuldades dos EUA e da Grã-Bretanha para demonstrar serem verdadeiros os motivos alegados para invadir o Iraque (armas de destruição em massa, laços de Bagdá com a rede terrorista Al Qaeda).
Um levantamento divulgado em texto do site "Editor & Publisher" (editorandpublisher.com), na última quinta-feira, indica, porém, que a situação, é ainda mais grave do que informam as TVs e os grandes jornais norte-americanos.
Estes, como também a Folha, têm publicado, em regra, apenas o número de soldados "mortos em combate", nas chamadas "ações hostis". Seriam, até a última sexta, cerca de 150.
Citando um outro site, criado para contabilizar as perdas de militares da coalizão com base em diferentes fontes oficiais, a reportagem do "E&P" informa, no entanto, que, considerado o conjunto das mortes, o total chega a pelo menos 224 americanos, sendo 85 a partir do "final" da guerra (ante o total de 33 que a mídia publica, como "mortos em combate", desde 2 de maio).
O dado é importante não só porque, em síntese, "morto é morto", como se diz, mas também porque, segundo o texto, as tais mortes "fora de combate" - analisadas uma a uma pelo site- não teriam acontecido tão "fora de combate" assim.
Assinada por Greg Mitchell, a reportagem argumenta: "Pode-se afirmar com segurança que quase todas essas pessoas estariam vivas se já tivessem retornado aos Estados Unidos".
É difícil assegurar que os números analisados ou contabilizados nesses sites sejam, também, totalmente verdadeiros (podem existir, até, outros levantamentos que ignoro). Mas eles devem servir como alerta para que o jornal não se limite às estatísticas parciais divulgadas pelo governo ou pela mídia dos EUA.
Não seria o caso de acoplar aos dados oficiais de "mortos em combate" alguns números -como esses, por exemplo, dos "fora de combate"- que permitam oferecer aos leitores uma visão a mais e, portanto, algo mais próximo da realidade?


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