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Vanderlei de Lima

As torcidas organizadas devem participar do Carnaval de São Paulo?

SIM

Os violentos são uma pequena minoria

Há um grande debate que nos coloca, há anos, diante de um dilema sobre a participação de torcidas organizadas no Carnaval paulista.

Minha posição, depois de ter estudado por vários anos essas agremiações: elas devem, sim, desfilar nos dias de folia em nossa capital.

Afinal, apesar de existirem conceituadas escolas de samba que participam dos festejos carnavalescos sem ter vínculos com torcidas, muitas organizadas possuem as suas próprias escolas e primam por mostrar, no sambódromo, parte da grande riqueza cultural brasileira.

Só neste ano, três torcidas da capital se fizeram presentes no grupo especial: Dragões da Real (São Paulo), Gaviões da Fiel (Corinthians) e Mancha Alviverde (Palmeiras).

Festejaram de modo bonito. Parte da imprensa chegou a mostrar, inclusive, que torcedores rivais se uniram para sambar juntos, independentemente do seu time.

Desse modo, foi possível ver botafoguenses, são paulinos, vascaínos e até (pasmem!) corintianos exercendo funções especiais na Mancha Verde, tudo sem o menor problema.

Vimos também que a Dragões da Real, entusiasta do São Paulo, despertou, com seu enredo sobre as mães, aplausos e lágrimas de emoção de corintianos da arquibancada, que cantavam e vibravam. Isso não é uma sadia rivalidade?

É certo, no entanto, que parte das autoridades e até alguns órgãos da mídia parecem torcer para que algo dê errado entre as organizadas.

Criou-se, evidentemente por culpa de uns poucos seres humanos estúpidos ou portadores de distúrbios psicológicos ou psiquiátricos que ingressam nas torcidas, a ideia de que o torcedor de organizada é um vândalo e de que, onde ele for, irá brigar, destruir ou até matar.

Parte das diretorias de torcidas também são, evidentemente, responsáveis por essa má fama que foi adquirida ao longo dos anos. Elas, embora podendo, raramente dão boa formação aos seus associados e dificilmente expulsam aqueles que cometem atos ilícitos. Essas diretorias pagam, pois, o preço por alimentarem o sábio provérbio popular que sentencia que "quem agrada aos burros um dia leva coice". Não há outra saída plausível a não ser colher o que se plantou. Ou dão formação e aplicam punições, ou nunca terão voz e vez.

No entanto, o rótulo de violentas dado às torcidas organizadas parece demasiado genérico. Segundo Maurício Murad, sociólogo carioca, dentro de uma torcida, apesar da empolgação quase desmedida, só uma pequena parcela de 5% é realmente estúpida e merece censura.

Esse dado já serve para tranquilizar, mas não anestesiar, os críticos de plantão. Afinal, se só o torcedor organizado causasse transtornos, os eventos em que eles não estão presentes seriam de uma paz celestial. Ora, isso não é verdade.

Basta acompanhar os noticiários para ver o quanto a violência é uma realidade social que ultrapassa de longe os agrupamentos de torcedores organizados presentes no Carnaval. Eles não podem, portanto, ficar com a responsabilidade pelos males causados também por outras pessoas no Carnaval -evento que, apesar de festivo, tem o seu lado sombrio.

Aliás, no ano passado, os profetas da desgraça lançaram aos quatro ventos os seus brados de que, com três grandes torcidas paulistas no Anhembi, teríamos uma tragédia anunciada. Protestei com cartas a vários jornais e qualifiquei os falsos adivinhos de "morcegos", pois parecem desejar que tudo que se refere às organizadas acabe em sangue.

Enganaram-se. Abstraindo-se um ou outro problema mais pessoal e organizacional do que institucional, a festa foi grandiosa. As torcidas devem, pois, continuar no Carnaval paulista, mostrando brilho e alegria, apesar da oposição enfrentadas. Parabéns! O abuso não tolhe o uso.

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