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Sabor autoritário

Evitar que jovens comecem a fumar é objetivo nobre e de alta relevância sanitária. Parece excessiva, entretanto, a decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de proibir o uso dos aditivos utilizados pela indústria ao fabricar cigarros com sabor.

Embora respondam por uma parcela não muito expressiva no total de maços vendidos, tabacos aditivados já constituem 22% das marcas existentes no Brasil (eram apenas 10% em 2007). Acredita-se que esses produtos, ao mascararem o gosto desagradável das primeiras tragadas, favorecem o início do hábito de fumar entre jovens.

Não há muita dúvida de que a rápida expansão do segmento de cigarros com sabores como menta, cereja, canela e chocolate resulte de estratégia da indústria para conquistar o público adolescente.

A decisão da Anvisa, no entanto, peca pelo exagero autoritário. Se banir produtos fosse solução, não haveria problemas com drogas ilícitas. O próprio raciocínio que embasa a medida é questionável.

Piorar o gosto do que faz mal não é uma ideia válida para promover a saúde pública. Se fosse, alguém poderia argumentar -pela via do absurdo- que a agência deveria interferir no sabor de vinhos e cervejas, por exemplo.

Antes de simplesmente proibir cigarros que tiveram sua produção autorizada pela própria Anvisa não muito tempo atrás, teria sido interessante buscar e debater alternativas. O tabagismo entre jovens não decorre apenas e nem principalmente do gosto do cigarro, mas de vários elementos.

Um dos fatores, certamente, é o baixo preço com que se comercializa o tabaco no Brasil. A carga de impostos sobre os cigarros é uma variável cuja alteração alcançaria efeitos especialmente fortes entre os adolescentes.

O mais importante, porém, é insistir no caminho da boa informação científica sobre os perigos do tabaco, aliada à pressão social difusa para evitar o fumo.

Essa estratégia, que não recorre a proibições nem à polícia e preserva a autonomia individual, vem sendo coroada de êxito aqui mesmo no Brasil. Em 1989, 32% da população com 15 anos ou mais era fumante. Em 2008, a prevalência havia despencado para 17,2%.

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