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Robson Braga de Andrade

Sucatear a indústria é voltar ao século 19

Os manufaturados nacionais perdem os mercados interno e externo; desse jeito, teremos de volta o Brasil onde se importava tudo, gerando renda no exterior

Alguns momentos na história são determinantes. Neles, os países decidem que rumo querem tomar. O Brasil passa por um desses períodos.

À frente, existem duas opções. A primeira, que pressupõe o fortalecimento da indústria nacional, é virtuosa. Ela leva ao desenvolvimento e a todos os seus benefícios.

O segundo caminho, o do sucateamento industrial, é doloroso. Resultado das péssimas condições de competitividade a que as empresas estão submetidas, suas consequências são o atraso econômico e social.

A indústria de transformação, que exclui segmentos como a extração mineral e a construção, já foi responsável por 36% do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 1980.

Essa participação cai de forma mais ou menos contínua desde o início dos anos 1990, chegando a 14,6% no ano passado, o menor nível desde 1956. Na Coreia do Sul e na China, dois dos nossos maiores concorrentes, a indústria corresponde a não menos do que 27,5% do PIB e a 29,6%, respectivamente.

Os manufaturados nacionais perdem espaço tanto internamente como no mercado externo. Entre 2002 e 2011, sua parcela na pauta de exportações caiu de 54,7% para 36,7%.

A balança comercial da manufatura passou a acumular deficits, com as importações ganhando terreno sobre as exportações. Esse rombo foi de US$ 92,46 bilhões e pode superar US$ 94 bilhões em 2012.

Em segmentos como têxteis, autopeças, eletroeletrônicos e bens de capital, a situação é dramática.

Eles sofrem com a enxurrada de importados, estimulada por um real supervalorizado. Impulsionados por mão de obra barata e câmbio artificialmente desvalorizado, os produtos chineses invadiram o mercado interno. Com importações maciças, o Brasil cria emprego e gera renda lá fora.

Um país como o Brasil não pode prescindir de uma indústria forte e competitiva para gerar empregos de boa qualidade e em grande quantidade. Só a indústria tem o poder de irradiar a prosperidade em larga escala, estimulando as vendas de outros setores, nas extensas cadeias de produção.

Sempre que a economia brasileira cresceu a taxas elevadas, nos anos 1970 ou em 2010, foi puxada pela atividade fabril. Não existe país rico sem indústria forte.

Medidas recentes, como a taxação do capital especulativo e o aumento de impostos para automóveis de montadoras que não fabricam no país, vão na direção correta. Mas o ritmo é lento. O câmbio valorizado está matando a competitividade dos produtos brasileiros.

É preciso tomar ações enérgicas para reverter o cenário. O governo deve adotar um controle de capitais rígido, com quarentena de pelo menos seis meses para aplicações de curto prazo, taxação sobre seus ganhos ou a instituição de um pedágio.

É preciso também atacar logo as causas estruturais da falta de competitividade. O sistema tributário torna a vida do empresário um inferno, onera investimentos e exportações, enquanto estimula importações, em um contrassenso difícil de explicar.

O custo dos investimentos ainda é um dos maiores do mundo. A burocracia impõe encargos desnecessários. Deficiências de infraestrutura e de logística encarecem os produtos.

O fato de os industriais brasileiros insistirem em produzir em um ambiente tão hostil só pode ser creditado à sua tenacidade.

O governo precisa dar passos mais decisivos para retirar os entraves à competitividade. Com urgência. Mantido o quadro atual, acabaremos voltando ao século 19, onde se importava tudo. Não podemos voltar a ser reféns dos humores internacionais, sob pena de perdermos boa parte de nossa soberania.

ROBSON BRAGA DE ANDRADE, 63, é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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