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Marina Silva

Prometeu e Epimeteu

Escrevo sem informações sobre o alcance e a profundidade do veto da presidente Dilma Rousseff ao Código Florestal. Falível lugar de Prometeu, aquele que pensa antes. Sem os contornos do acontecido para fazer seu juízo, resta esforçar-se para não deixar escapar a esperança, com os muitos malefícios da caixa de Pandora, destinados a punir os humanos pela ousadia de imaginar serem capazes de criar aquilo em que acreditam.

Esperança na força do compromisso de quem se comprometeu com todo o povo brasileiro, em carta a mim dirigida: "Sobre o Código Florestal, expresso meu acordo com o veto a propostas que reduzam áreas de reserva legal e preservação permanente, embora seja necessário inovar em relação à legislação em vigor. Somos totalmente favoráveis ao veto à anistia para desmatadores".

Esperança de que as muitas vozes ao redor, dizendo "sim" e "não", enquanto aguardam a presidente apontar o rumo pelo qual andará o país nas próximas décadas, tenham lhe feito pensar na grandiosidade do sentido que só nasce depois, sina de Epimeteu, o irmão de Prometeu.

Que tenha brotado a força para propor e abrir o espaço da construção democrática, indo além de simplesmente dizer "não" aos piores trechos do texto que saiu do Congresso Nacional, chegando às raízes daquilo que o Brasil precisa: firmeza de quem, do privilegiado lugar em que está a presidente, vê o quadro todo e arca com a decisão de governar ousando.

Hoje, 25 de maio, a senhora já tomou sua decisão, presidente Dilma. Espero sinceramente que tenha resistido aos que pensam que, ao pintar de verde-amarelo a devastação das florestas, estão defendendo os interesses da agricultura e da sociedade brasileira.

Que tenha resistido aos apelos para desconsiderar os alertas da ciência e da maioria do povo brasileiro. Que tenha resistido também aos que pregam o retorno aos termos do projeto do Senado, pois isto seria apenas um triste remendo, e não uma solução.

Que tenha se convencido de que o Brasil quer ouvir uma voz mais nítida que a dos "estadistas": a voz de um ser humano no meio de um planeta convulsionado e necessitado de paz. A voz que não pensa apenas nos votos da próxima eleição ou nos negócios da próxima década. A voz do grande tempo.

E que tenha reaberto o debate para que, repetindo o que já disse, tenhamos a chance de, numa espécie de segundo turno, aprofundar o debate e votar novamente, como a senhora tão bem o pode experimentar. Que seu veto tenha sido uma espécie de segundo turno em uma eleição cujo candidato é o futuro do Brasil e de nossas florestas. Leiamos o que nos traz hoje o "Diário Oficial".

MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.

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