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Kaká Ferreira

TENDÊNCIAS/DEBATES

Deve ser permitida a distribuição de sopão na rua por instituições de caridade?

sim

Amor ao próximo não é crime

Em São Paulo, existem hoje 48 ONGs que juntas distribuem cerca de 9.500 refeições diariamente, número que atende pouco mais da metade dos moradores de rua da cidade.

De acordo com os dados do IBGE, há cerca de 18 mil pessoas vivendo nas ruas da cidade de São Paulo.

A prefeitura conta hoje com nove albergues para atender a população de rua. Há ainda tendas (espaços de convivência social), que só funcionam durante o dia. Sem as ONGs, a assistência aos moradores de rua seria ainda mais deficiente.

Na última semana, fomos surpreendidos com a notícia que a Secretaria Municipal de Segurança Urbana iria punir civil e criminalmente as entidades sociais que prestam assistência às pessoas em situação de rua da cidade de São Paulo caso elas não concordem em fazer o trabalho somente nas tendas da prefeitura.

A princípio, a notícia nos deixou sem chão. Ao mesmo tempo, ficamos um pouco otimistas. Afinal, enxergamos a possibilidade do governo municipal assumir o trabalho que hoje é feito pelas ONGs, dando assim assistência a esse povo sofrido que vive perambulando pelas ruas.

A proibição, apresentada pelo secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, consideraria crime o trabalho de distribuição de alimentos e roupas por entidades assistenciais.

Ficamos chocados. Afinal, amar o próximo não é crime aqui e nem qualquer outro lugar do mundo. Fomos atrás de mais informações, pois até agora não recebemos nenhum informativo ou comunicado oficial.

Na última quinta-feira, a prefeitura divulgou o cancelamento do projeto que previa a proibição do trabalho das entidades assistenciais no centro de São Paulo. Novamente fomos surpreendidos.

A decisão desta vez foi do prefeito Gilberto Kassab. Pressionado pela sociedade e pela mobilização nas redes sociais, voltou atrás e desautorizou o secretário Edsom Ortega.

Esperamos que esta decisão não tenha motivação política, mas que busque soluções para melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em situação insalubre.

O grupo Anjos da Noite, entidade que trabalha com assistencialismo há 23 anos, esta à disposição da prefeitura, dos órgãos competentes e de toda a sociedade para discutir políticas públicas que possam ajudar na construção de um projeto e eficiente para essas pessoas.

Não deixaremos de fazer o nosso trabalho enquanto não houver solução definitiva para a situação das pessoas em situação de rua. Continuaremos com a distribuição de comida e agasalhos não só para aqueles que estão nas tendas, mas também para os que estão nas ruas e que não frequentam albergues à noite.

É preciso resgatar a autoestima das pessoas em situação de rua para possibilitar, a partir daí, a sua reintegração ao meio social.

Para atingir esse objetivo, a alimentação é um caminho. Ela estabelece uma relação de confiança para que eles possam verdadeiramente se abrir -assim começa o processo de reintegração social.

Dizem os moradores de rua que as instituições que levam alimentação para eles nas ruas de São Paulo devem ser anjos. Isso é muito significativo, porque assim se estabelece uma a relação de confiança. Além da comida, conversamos com todos eles, procuramos saber que razões fizeram com que eles se tornassem pessoas em situação de rua.

Muitas vezes a única refeição que eles recebem é aquela que levamos.

É muito triste ver uma pessoa faminta. Porque a fome traz uma sensação de profunda impotência, física e moral. É preciso pensar nisso.

KAKÁ FERREIRA, 59, funcionário público, é fundador e presidente do grupo Anjos da Noite

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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