Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Wagner Lino e Wanderley Salatiel

A cobrança eletrônica de pedágio por quilometragem rodada é um avanço?

NÃO

Prejudicando a região metropolitana

Maus augúrios os publicados por esta Folha em sua edição de segunda-feira (16), sobre o novo sistema de cobrança eletrônica de pedágio pretendido pelo governo do Estado.

Além atentar contra o direito de ir e vir da população de cidades cortadas por rodovias privatizadas ao pretender que os veículos que transitam por essas vias paguem, o projeto é o embrião de um sistema de pedágio urbano que, aplicado hoje, seria injusto e incompleto.

O novo pedágio, que prevê uma medição eletrônica de quilômetros rodados por meio dos chips de identificação que serão obrigatórios em todos os carros do país a partir de 2013, extinguiria os trechos livres de taxa ao criar uma cobrança proporcional para cada condutor nas estradas.

Essa lógica ignora a realidade de diversos municípios, como São Bernardo, onde a via Anchieta funciona como ligação expressa entre bairros afastados, inclusive comunidades de baixo poder aquisitivo às margens da rodovia, e o centro da cidade. O mesmo ocorreria em Campinas, Guarulhos, Barueri e Cotia, entre outros municípios.

Assim, circular por trechos que são utilizados diversas vezes pelo mesmo condutor todos os dias passaria a constar no orçamento familiar de milhares de pessoas, que já pagam caro pela gasolina ou pela passagem do ônibus.

A passagem, aliás, pode ser afetada pelo novo custo para rodar pelas estradas. Aumentaria também o custo do transporte de mercadorias em curta distância. Ou seja, as mudanças propostas forçariam a inflação local e consumiriam a renda dos trabalhadores em troca de nenhum benefício direto.

O pedágio urbano não é necessariamente ruim: ele existe em diversas cidades pelo mundo e é uma forma de desincentivar o tráfego de veículos individuais e promover o transporte público, especialmente sobre trilhos.

Mas esse não é o caso do Estado de São Paulo.

Apenas em 2012, foram mais de 15 panes nos trens da CPTM, causando atrasos para milhões de pessoas na região metropolitana. O metrô, com extensão de apenas 70 km (um terço do tamanho do metrô na cidade do México), sequer abrange as cidades no entorno da capital.

Além da baixa qualidade do serviço e de sua abrangência limitada, o preço da passagem não é convidativo: segundo levantamento de 2011, o preço do metrô paulistano é quase sete vezes mais caro do que o de Buenos Aires em dólares.

Enquanto o passageiro de São Paulo pagava o equivalente a US$ 1,80 por viagem naquele ano, o bilhete argentino custava US$ 0,27.

Portanto, a falta de alternativas ao transporte rodoviário cria uma situação em que o novo pedágio é apenas uma nova forma de sobretaxar ainda mais o cidadão, que já paga impostos destinados à manutenção das estradas, para engordar os lucros das empresas que gerem as rodovias paulistas.

Levando-se em conta que o trecho que vai do km 10 ao km 29 da via Anchieta, por exemplo, é utilizado diariamente por 42.500 veículos, uma hipotética cobrança de R$ 1 por viagem nesse percurso significaria R$ 1,2 milhão a mais para a Ecovias por mês, ou R$ 15,3 milhões anuais.

Esse, certamente, não é o modelo de desenvolvimento que desejamos para o nosso Estado.

WAGNER LINO, 65, ex-deputado estadual (1994-2002), é membro da Executiva do PT de São Bernardo do Campo
WANDERLEY SALATIEL, 52, é presidente do PT de São Bernardo do Campo

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.