São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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Magia e eleição

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Lembra-se de quando Paulo Maluf liderava todas as pesquisas para a eleição paulista e parecia destinado a um galope triunfal?
Os antimalufistas supostamente politizados bramiam de indignação com Duda Mendonça, o marqueteiro mor, a quem acusavam de ter transformado candidatos em sabonetes e as disputas eleitorais em um torneio de pura mercadologia.
Duda, com Nizan Guanaes, responsável pela campanha de Fernando Henrique Cardoso, ganhou até capa de revista, como mago.
Aí Maluf perdeu, como perderam vários dos outros candidatos que tinham Duda como marqueteiro, entre eles o governador gaúcho Antônio Britto. Ninguém mais tocou no assunto, para elogiar ou criticar Duda e cia.
De minha parte, continuo achando Duda Mendonça um brilhante publicitário. Como todo publicitário, o que ele faz é puxar o lado positivo do, digamos, "produto" que quer vender e omitir eventuais aspectos negativos. Ou é diferente na venda de sabonete, dentifrício etc.?
A única diferença é que alguns comerciais carecem de talento, ao contrário do que ocorre com as peças de Duda, que, além disso, apóia-se também em um sólido e bem-elaborado trabalho de pesquisas, quantitativas e qualitativas.
O que o Duda não faz é mágica. Na política, como na propaganda, são raros os casos em que o consumidor compra um desodorante quando, na verdade, quer comprar um carro.
Em 1989, por exemplo, o consumidor brasileiro queria comprar uma novidade que parecesse um "caçador de marajás". Comprou Fernando Collor de Mello, que se apresentava como tal. Era propaganda enganosa, como logo se descobriu.
Endeusar ou execrar o marqueteiro é, pois, um exercício inútil. Bem feitas as contas, quem ganha ou perde eleição é o candidato, como Maluf acaba de verificar penosamente.



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