São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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Vamos lá

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Bem, agora não há escapatória: aí está 1999 com tudo de ruim que se tem dito a seu respeito.
O novo ano começou, 98 já é passado, e, enquanto 2000 não chegar, teremos que conviver com o ano mais mal-afamado das últimas décadas.
Pelo que deu para ler na maioria das análises econômicas, políticas, sociais e afins, se 99 for "apenas" ruim deveremos dar graças a Deus.
Mas, hoje, o que se pode dizer é o seguinte: a avaliação catastrofista de uma crise que se aproxima é, em princípio, muito pior que a crise em si, quando e se esta chegar à plenitude propagada.
Há um fantasma, justamente o fantasma da crise iminente, a sombrear os corações e a capacidade de raciocínio das pessoas. "O horror, o horror", como diria Joseph Conrad em "O Coração das Trevas", que deu origem ao filme "Apocalypse Now".
Todos já se entristecem à espera do caos, da desgraça, que poderá se manifestar na perda do emprego, na queda da publicidade, na diminuição das vendas, na baixa da produção, na fuga dos capitais, na crise familiar, no tráfico, no sequestro, no roubo, na convulsão social...
No somatório das análises pessimistas que andam por aí, 1999 só pode resultar nisso: no fim dos tempos.
(Dá vontade até de acrescentar mais uma visão apocalíptica e inverter os três noves do ano para obter 666, o número da besta, mas é melhor deixar para lá.)
O fato é que justamente hoje começamos o novo ano e temos de ir em frente. E é excelente saber que podemos simplesmente tocar a vida, aproveitar o fim-de-semana prolongado para refletir sobre as melhores maneiras de buscar o acerto, o mais viável, o menos oneroso, o mais rentável, o mais agradável, o menos triste, o mais correto, o mais feliz, o menos caótico, o mais positivo em tudo o que obrigatoriamente teremos de fazer, porque no final das contas este é apenas mais um ano novo.
A alternativa é deprimir-se desde já imaginando que 99 vai ser mesmo de matar.
Não é isso que espero nem desejo para ninguém.



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