RIO DE JANEIRO - Boa a imagem usada por Lula para lançar o Fome Zero na última quinta-feira. Aliás, a equipe que o orienta e escreve seus pronunciamentos mais solenes está tinindo, o discurso em Davos foi muito bom, bem escrito, ele deu excelente recado.
Acontece que Lula não é mais candidato nem líder do maior e mais organizado partido de oposição. Ele é governo. E governo em regime presidencialista, equivalente a uma monarquia constitucional, que faz do presidente um verdadeiro príncipe.
Ele podia aproveitar a popularidade que conquistou legitimamente, popularidade que nem JK teve em seus melhores momentos, só se igualando à de Vargas em certos instantes de seus dois governos, o ditatorial e o democrático.
Muito boa a idéia do peixe e do pescador, mas na boca de um bispo de qualquer igreja, de um militante de qualquer ONG bem-intencionada, de um orador de sobremesa ou de beira de sepultura. Um presidente da República deveria aproveitar a popularidade de que desfruta, ao menos neste início de mandato, para desencavar os verdadeiros esqueletos dos armários que, na oposição, ele sempre denunciava. Há as reformas agrária, política e tributária, que todos os governos prometeram e deixaram para o seguinte. Uma delas, pelo menos, poderia ser feita nesta onda de otimismo que atravessamos.
Lula, o PT e qualquer pessoa minimamente politizada sabem que é por aí o grande salto que devemos dar rumo ao desenvolvimento e a um estágio mais avançado de justiça social. Sem mexer fundamente no campo, na legislação fiscal e partidária, continuaremos patinando com os mesmos problemas e as mesmas não-soluções.
Dar peixe a todos é questão relativamente fácil, basta um Cristo que faça um milagre emergencial. Ensinar o governo e os governantes a pescar é bem mais difícil, principalmente quando o pescador sabe pescar, mas não quer ou não pode pescar.


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