São Paulo, sábado, 01 de março de 2008

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Cédulas marcadas

OS RUSSOS vão às urnas amanhã para escolher seu novo presidente. O pleito é menos do que uma formalidade, porque o atual presidente, Vladimir Putin, não apenas já designou seu sucessor como também tomou providências para, mesmo deixando o Kremlin, seguir no comando do país.
Dmitri Medvedev deverá sagrar-se presidente com uma votação acachapante. Colherá os frutos da popularidade de Putin, diretamente associada à alta tremenda nos preços do petróleo e do gás natural nos últimos anos. O sucessor do caótico Boris Ieltsin também logrou restaurar a autoridade do governo russo, não sem abusar da repressão. Em oito anos de mandato, Putin arrancou pela raiz tudo o que se parecesse ainda que remotamente com uma oposição viável.
Mesmo agora, quando a candidatura Medvedev já não corria nenhum risco, a Comissão Eleitoral Central impediu o liberal Mikhail Kasyanov, que foi premiê de Putin, mas rompeu com o presidente, de concorrer como independente. A idéia era evitar que ele ganhasse espaço para disputar pleitos futuros.
Os "concorrentes" de Medvedev são basicamente o ultranacionalista Vladimir Jirinovski e o comunista Guennadi Ziuganov. Ambos se saem relativamente bem, arrebanhando cerca de 10% dos votos cada um, mas contam com altíssimos índices de rejeição. Não constituem, assim, nenhuma ameaça futura.
Quanto a Putin, que estava constitucionalmente impedido de postular um terceiro mandato presidencial, ele já armou tudo para tornar-se premiê. Elegeu-se deputado em dezembro passado e deverá ser "convidado" por Medvedev para assumir o comando do governo.
Ao que tudo indica, o autocrata de Moscou encontrou uma forma original de perpetuar-se no poder. O problema é que sua permanência afasta cada vez mais o país da democracia.


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