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UM PAPEL PARA A OTAN
A entrada de sete países do
Leste Europeu na Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), a aliança militar ocidental,
reveste-se de aspectos simbólicos,
mas não apaga a crise de identidade
em que a instituição patinha desde o
fim da Guerra Fria -sem embargo
de ter participado das intervenções
nos Bálcãs e no Afeganistão.
Tem um sabor especial de revanche
histórica o fato de que entre os novos
membros se incluam a Lituânia, a
Letônia e a Estônia, que fizeram parte da União Soviética, superpotência
cuja contenção era o propósito mesmo de existência da Otan. Depois do
colapso da URSS, em 1991, a organização sobreviveu pela inércia. Está
até hoje em busca de um desígnio.
Lidar com a ameaça terrorista que
paira sobre o Ocidente é o que de
mais parecido com um objetivo comum existe, principalmente depois
dos atentados de Madri, no 11 de
Março. O encontro de interesses,
contudo, é mais aparente do que
real. Enquanto a Casa Branca aposta
em intervenções militares para combater o terrorismo, boa parte dos países europeus enfatiza mais a resolução do conflito israelo-palestino e a
desocupação do Iraque.
Embora improvável, não é impossível que os EUA e as principais potências européias cheguem a um
acordo para definir uma nova missão
para a Otan no enfrentamento do terrorismo. Nesse caso, a organização
teria de lidar com o problema do desequilíbrio de forças. Para a Europa
reivindicar um papel mais efetivo na
Otan, precisaria ampliar substancialmente seus gastos militares, hoje na
casa dos 2% do PIB. Os EUA colocam, sozinhos, muito mais do que a
soma de toda a UE. E, no momento,
a população européia de um modo
geral parece mais preocupada em
preservar suas aposentadorias e o
sistema de bem-estar social.
A ampliação da Otan, apesar da
pompa, está longe de resolver a crise
de identidade da organização.
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