São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Fatos e "articulação"

MADRI - O PT achou o pretexto ideal para varrer para baixo do tapete toda a sujeira do caso Waldomiro Diniz. Segundo seu presidente, José Genoino, tudo não passou de uma "articulação política" entre o subprocurador da República, José Roberto Santoro, e o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).
Que é condenável a atitude de Santoro de forçar a entrega da fita de vídeo nem seria preciso dizer em um país normal. Mas, no Brasil, convém dizer: é um escândalo.
Mas um escândalo não pode servir para tapar o outro.
Continuam de pé todos os fatos anteriores, a saber:
1 - José Dirceu, "gerente" do governo, convive com um cidadão durante 13 anos, leva-o até para o mesmo teto e não consegue descobrir que se trata de um tremendo trambiqueiro.
2 - Por isso mesmo, Dirceu leva o trambiqueiro para a sede do governo e ainda lhe dá a tarefa de negociar com a base governista, um processo que todo mundo sabe ser dos mais limpos da face da Terra.
3 - Descoberto o trambiqueiro, Dirceu reage dizendo que Diniz só foi trambiqueiro antes da posse do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
4 - Aí, vem a comissão de sindicância nomeada pelo próprio governo (e, portanto, isenta de suspeição de qualquer "articulação política") e diz haver "fortes indícios" de improbidade administrativa no comportamento de Diniz DEPOIS da posse de Lula. Dirceu não retifica a declaração anterior.
De mais a mais, se o mesmo Santoro esteve envolvido na apuração do caso "Lunus" (a pilha de dinheiro encontrada em escritório de gente ligada a Roseana Sarney, então pré-candidata presidencial), convém lembrar que, à altura, o PT fez o mínimo de ruído possível. Claro: Roseana era uma ameaça não apenas a Serra, mas também a Lula.
Enfim, antes de o PT ser governo, os procuradores eram os heróis da República, quando faziam, contra os governantes de turno, o mesmo que agora passou a ser "articulação política". Quem te viu e quem te vê.


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