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ELIANE CANTANHÊDE
Legião de estropiados
BRASÍLIA - Petistas versus tucanos. A primeira fita versus a segunda fita.
Ministério Público versus Ministério
Público. Polícia Federal versus Polícia Federal. A coisa está virando uma
guerra entre dois adversários fortes,
raivosos e, curiosamente, bem parecidos entre eles em muitos aspectos. O
PT é o PSDB de ontem, e vice-versa.
Tucanos ligaram para reclamar
que a divulgação da segunda fita (em
que o subprocurador José Roberto
Santoro aparece dando uma prensa
no bicheiro Cachoeira para entregar
a fita original) é apenas "uma manobra diversionista", um lance para aliviar a barra do governo.
Já petistas ou representantes do governo Lula ligam para falar da gravidade de um subprocurador sempre
apontado como tucano ou serrista
(aliado do ex-candidato presidencial
José Serra) ser gravado madrugada
adentro com um bicheiro. E admitindo que aquela reunião poderia ser interpretada como ato para derrubar
Dirceu ou o próprio governo.
A mesma discussão invadiu a Polícia Federal e o Ministério Público, órgãos que deveriam ser imunes a pressões e a jogo político desse tipo. Policiais investigam e procuradores acusam com indícios e provas doa a
quem doer. Certo? Talvez...
Para os acusados de petistas pelos
tucanos e de tucanos pelos petistas, os
dois lados neste caso têm razão. E os
dois lados, portanto, não têm nenhuma razão. Aos fatos: 1) Waldomiro
existiu, foi feio e continua mal explicado, ainda mais se somado a Buratti; 2) Santoro sempre foi acusado de
não ter "impessoalidade", e sua voz,
na segunda fita, reabre velhas desconfianças e feridas. É ruim para ele e
ruim para os tucanos.
No meio disso, a denúncia do "MP
tucano" contra o presidente da CEF,
Jorge Mattoso, no caso Waldomiro-Buratti, soa forçada e extemporânea.
Tudo somado, temos que a guerra
política tomou conta do cenário, roubando a racionalidade da oposição,
expondo a falta de explicações convincentes do governo e subtraindo
credibilidade de MP e PF. Não há
vencedores nem perdedores, mas
uma legião de estropiados.
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