São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

De preços e de mãos

ROMA - A conferência da FAO sobre segurança alimentar, que começa na terça-feira, foi recebida ontem pela seguinte manchete do jornal italiano "La Repubblica": "Pão e massas fazem voar a inflação". Voar é um certo exagero. Chegou a 3,6% nos 12 meses até maio. De todo modo, é o maior número desde 1996.
Na Espanha, a inflação de maio chegou ao ponto mais alto desde 1995. Daria até para dizer que se trata da globalização da inflação, um animal que parecia em vias de extinção até faz bem pouco tempo.
As respostas que podem dar os governos demonstram que seu raio de ação é cada vez mais limitado. É verdade que a cúpula da FAO deve afirmar a necessidade de políticas públicas de segurança alimentar. Mas é o tipo de "saludo a la bandera", como gostam de dizer os argentinos: inclina-se a cabeça diante dela ao passar, mas depois a vida continua sem nem sequer lembrar-se da bandeira.
Congelar preços? Nem o Brasil, especialista na matéria durante anos, pensa nisso. Não funcionou, a não ser por períodos curtos.
Fazendas coletivas para produzir os alimentos que escasseiam e ajudam a disparar os preços? Está caindo de moda até mesmo em Cuba, um dos últimos redutos do Estado-agente econômico.
O Brasil até que poderia dar exemplos de como políticas públicas ajudam. O estímulo à agricultura familiar, que responde por 70% da produção de alimentos, fez com que a cesta básica no país subisse apenas 25% nos últimos três anos, contra 83% no mundo.
Mesmo assim, não basta. Tanto não basta que o presidente Lula acaba de acenar com "remédio amargo" para enfrentar a inflação em alta.
Parece claro que, nessa área como em outras, não se achou ainda um correto equilíbrio entre a mão invisível do mercado e a mão pesada demais do Estado.


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