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CLÓVIS ROSSI
De preços e de mãos
ROMA - A conferência da FAO sobre segurança alimentar, que começa na terça-feira, foi recebida
ontem pela seguinte manchete do
jornal italiano "La Repubblica":
"Pão e massas fazem voar a inflação". Voar é um certo exagero. Chegou a 3,6% nos 12 meses até maio.
De todo modo, é o maior número
desde 1996.
Na Espanha, a inflação de maio
chegou ao ponto mais alto desde
1995. Daria até para dizer que se
trata da globalização da inflação,
um animal que parecia em vias de
extinção até faz bem pouco tempo.
As respostas que podem dar os
governos demonstram que seu raio
de ação é cada vez mais limitado. É
verdade que a cúpula da FAO deve
afirmar a necessidade de políticas
públicas de segurança alimentar.
Mas é o tipo de "saludo a la bandera", como gostam de dizer os argentinos: inclina-se a cabeça diante dela ao passar, mas depois a vida continua sem nem sequer lembrar-se
da bandeira.
Congelar preços? Nem o Brasil,
especialista na matéria durante
anos, pensa nisso. Não funcionou, a
não ser por períodos curtos.
Fazendas coletivas para produzir
os alimentos que escasseiam e ajudam a disparar os preços? Está
caindo de moda até mesmo em Cuba, um dos últimos redutos do Estado-agente econômico.
O Brasil até que poderia dar
exemplos de como políticas públicas ajudam. O estímulo à agricultura familiar, que responde por 70%
da produção de alimentos, fez com
que a cesta básica no país subisse
apenas 25% nos últimos três anos,
contra 83% no mundo.
Mesmo assim, não basta. Tanto
não basta que o presidente Lula
acaba de acenar com "remédio
amargo" para enfrentar a inflação
em alta.
Parece claro que, nessa área como em outras, não se achou ainda
um correto equilíbrio entre a mão
invisível do mercado e a mão pesada demais do Estado.
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