São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2011 |
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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo. TENDÊNCIAS/DEBATES Eike, o aventureiro atrevido LUIZ FERNANDO EMEDIATO
Percorri a Transamazônica duas vezes do início ao fim, em 1978 e em 1980. Numa dessas viagens, topei em Itaituba, no Xingu, com um jovem aventureiro. Chamava-se Eike Batista, tinha 22 anos e comprava ouro, concorrendo com o poderoso Zé Arara, José Cândido de Araújo, uma lenda dos garimpos. Arara voava para os garimpos em aviões escangalhados, levando comida, ferramentas e prostitutas e trazendo ouro. Chegou a vender 30 toneladas para o governo, mas não se modernizou e desapareceu, enquanto Eike Batista foi empreender novos negócios e tornou-se dono da oitava fortuna do mundo. Trata-se de pessoa excêntrica, esquisita, que coloca a letra "x" nos nomes de suas empresas, gosta de mulheres bonitas e desperta paixão, inveja e ódio. Ao contrário do que se pensa, Eike não enriqueceu comprando jazidas identificadas por seu pai, Eliezer, ministro das Minas e Energia nos governos de Hermes Lima e João Goulart, secretário de Assuntos Estratégicos de Collor e várias vezes presidente da Vale. Dos sete filhos de Eliezer, Eike é o único que enriqueceu. Ficou rico trabalhando. Talvez por isso se irrite quando o acusam de ganhar benefícios por ser amigo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a quem empresta aviões. Nenhum governador deveria andar em aviões de empresários, mas, no caso de Eike, Cabral não pode dar a ele nada que já não tenha. Mas pode, sim, viajar nos aviões de Eike, se puder explicar que nada está em troca, além de sua amizade. É injusto acusar Eike de bajular o governador porque o Estado do Rio dá incentivos fiscais para suas empresas. Incentivo é uma coisa, benefício é outra. Incentivo é uma forma, como a palavra indica, de "incentivar" investimentos de risco. Basta ver o que Eike está fazendo no Rio para perceber que ele está dando, e não tomando. Os incentivos recebidos são daqueles que o governo concede para quem se arrisca. Não se trata de favor, está na lei. Para acusar Eike de ter levado benefício ilegal, seria preciso dizer qual, para qual empresa e quanto. Sendo Eike um bilionário excêntrico e vaidoso -é direito dele ser do jeito que é-, e querendo fazer bonito no Rio, onde, por charme, é dono de restaurante e hotel, ninguém tem nada com o fato de que ele "deu" R$ 139 milhões para projetos sociais do Estado: criação de unidades pacificadoras em favelas, despoluição, equipamentos para hospital, ações sociais diversas. O atrevido Eike afirma que é livre para selecionar suas amizades, faz o que quer com seu dinheiro e se orgulha disso. Eu faria a mesma coisa. Quando cruzei com ele comprando ouro em Itaituba, há 32 anos -aquele rapaz magrelo, com botas e chapéu-, confesso que pensei em seguir seu exemplo. Infelizmente, continuei apenas jornalista e editor; como tal, não tenho dinheiro nem avião para emprestar, mas apenas princípios e histórias para contar. Com meus princípios, convicções e palavras, eu faço o mesmo que Eike faz com o dinheiro dele. Ou seja: são meus, faço com eles o que bem quero, sem prestar contas a ninguém. E me orgulho disso. LUIZ FERNANDO EMEDIATO, 59, escritor, autor de "Trevas no Paraíso", é jornalista, ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo e publisher da editora Geração Editorial. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Pedro Meira Monteiro: O espelho dos EUA e a universidade nacional Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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