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ELIANE CANTANHÊDE
Pancadaria
BRASÍLIA - Se recua na reforma da Previdência, o governo é fraco e mau
negociador. Se não recua, está sendo
excessivamente duro e dando as costas ao seu passado.
Se o governo recua na reforma tributária, é porque cede às pressões e
está na mão dos governadores. Se
não recua, é porque quer concentrar
todos os recursos e botar os governadores na sua mão.
Se vai devagar e cheio de dedos
diante da determinação judicial para abrir documentos e identificar covas da guerrilha do Araguaia, o governo está traindo o passado e os
mortos da esquerda. Se escancara o
que tem e o que não tem e ajuda a botar os militares no banco dos réus, incendeia uma área delicada.
Se recebe o MST, Lula mete o boné
do movimento e nomeia um ministro
ligado aos sem-terra, o governo estimula a desordem, as invasões, a quebra da lei. Se põe a polícia e baixa o
pau, vira um "traidor de direita"
contra os pobres e oprimidos.
Se mantém a política econômica
ortodoxa, com juros altos, superávits
enormes, o governo está sendo manipulado pelos mercados e pelo FMI. Se
relaxa os juros e abre os cofres, é acusado de fraqueza e perde a confiança
dos investidores, tão essenciais.
O que é isto aqui, uma defesa do governo? Não. É uma constatação óbvia: governar é dificílimo, os limites
são estreitos, as decisões são de vida
ou morte. Vá para um lado, vá para o
outro, governo acaba apanhando.
Esse jogo interminável de pressões,
já natural em qualquer governo, torna-se ainda mais grave quando o
presidente é Lula, o partido no poder
é o PT e a eleição de 2002 foi movida
a esperança. Os velhos aliados e a tremenda desigualdade social, é claro,
explodem com mais força. As contradições e pressões são implacáveis. A
frustração, inevitável.
Antes, o PT batia em FHC. Hoje,
apanha e se contorce nas dores do poder. Com uma agravante: governar e
reagir a pressões exige humildade,
experiência e competência. E essas
não têm sido as principais características do governo PT.
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