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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Pancadaria

BRASÍLIA - Se recua na reforma da Previdência, o governo é fraco e mau negociador. Se não recua, está sendo excessivamente duro e dando as costas ao seu passado.
Se o governo recua na reforma tributária, é porque cede às pressões e está na mão dos governadores. Se não recua, é porque quer concentrar todos os recursos e botar os governadores na sua mão.
Se vai devagar e cheio de dedos diante da determinação judicial para abrir documentos e identificar covas da guerrilha do Araguaia, o governo está traindo o passado e os mortos da esquerda. Se escancara o que tem e o que não tem e ajuda a botar os militares no banco dos réus, incendeia uma área delicada.
Se recebe o MST, Lula mete o boné do movimento e nomeia um ministro ligado aos sem-terra, o governo estimula a desordem, as invasões, a quebra da lei. Se põe a polícia e baixa o pau, vira um "traidor de direita" contra os pobres e oprimidos.
Se mantém a política econômica ortodoxa, com juros altos, superávits enormes, o governo está sendo manipulado pelos mercados e pelo FMI. Se relaxa os juros e abre os cofres, é acusado de fraqueza e perde a confiança dos investidores, tão essenciais.
O que é isto aqui, uma defesa do governo? Não. É uma constatação óbvia: governar é dificílimo, os limites são estreitos, as decisões são de vida ou morte. Vá para um lado, vá para o outro, governo acaba apanhando.
Esse jogo interminável de pressões, já natural em qualquer governo, torna-se ainda mais grave quando o presidente é Lula, o partido no poder é o PT e a eleição de 2002 foi movida a esperança. Os velhos aliados e a tremenda desigualdade social, é claro, explodem com mais força. As contradições e pressões são implacáveis. A frustração, inevitável.
Antes, o PT batia em FHC. Hoje, apanha e se contorce nas dores do poder. Com uma agravante: governar e reagir a pressões exige humildade, experiência e competência. E essas não têm sido as principais características do governo PT.


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