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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Muito além do "mensalão"
SÃO PAULO - O pouco que ainda restou do PT e do governo dava sinais de
certo alívio no final da semana,
quando havia se formado a percepção difusa de que Lula, após quase
dois meses de crise, estava finalmente
em via de se safar de um desfecho trágico: o impeachment ou a renúncia
forçada diante da falta de condições
para conduzir o país.
Falou-se muito em "acordão"
-mas o que se viu foi uma convergência meio confusa de interesses
particulares para que o estrago fique
restrito ao Congresso e aos partidos.
Surgiram da sombra e atuaram à
sombra do poder vários bombeiros
dispostos a controlar o incêndio.
O próprio Lula saiu da defesa para
o ataque. Realizou uma espécie de
tour operário e protagonizou mais
uma de suas farsas publicitárias no
papel de canastrão chavista. O presidente retomou o discurso fantasioso
do golpismo das elites, criticou o comportamento da imprensa e se beneficiou do envolvimento do PSDB mineiro com Marcos Valério para arrastar os tucanos para a lama. Concluiu com o espetáculo da vulnerabilidade econômica, como quem diz:
"Tomem cuidado, atrás de mim vêm
o Zé Alencar e o Severino".
Tudo isso já envelheceu com as novas revelações, feitas pela revista "Veja", relacionando Bob Marques, homem de confiança de Dirceu, e os saques do "mensalão". A nota de corte
do "acordão" voltou a subir. A cabeça de Dirceu parece ser a "pièce de résistance" a ser servida na bandeja do
grande banquete ético.
Ao Planalto interessa rifar logo a
turma que se lambuzou no "mensalão", "stricto sensu", para salvar as
PPPs, as verdadeiras parcerias público-privado deste governo, que patrocinaram a festa: de um lado, Lula e os
seus; na outra ponta, as grandes empresas que alimentaram a lavanderia de Valério. Ou não é um bom
exemplo de PPP a Land Rover que a
GDK deu de gorjeta a Silvio Pereira?
O enredo deste filme é de quadrilha.
Mas Lula age como se a ele tivesse sido reservado o papel de Peter Sellers
em "Muito Além do Jardim".
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