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RUY CASTRO
Velha magia
RIO DE JANEIRO - Ex-funcionários
e leitores do "Jornal do Brasil" encontraram-se ontem na Cinelândia
para lamentar o fim da versão impressa do jornal, que circulou pela
última vez depois de 119 anos. Por
motivo de viagem, não compareci.
Melhor assim. Quando o "Correio
da Manhã" se despediu, em junho
de 1974, eu estava também a alguns
milhares de quilômetros.
O "JB" se junta agora ao "Correio" e aos outros jornais do Rio que
contaram a história do Brasil em
boa parte do século 20, mas que há
muito desapareceram das bancas:
"Diário de Notícias", "O Jornal",
"Diário da Noite", "A Noite", "Diário Carioca", "A Luta Democrática",
"A Notícia", "Gazeta de Notícias",
"O Radical", "Última Hora" e "Tribuna da Imprensa". Quase todos
fecharam nos anos 60. Daquela geração restam apenas "O Globo", "O
Dia", o "Jornal dos Sports" e o "Jornal do Commercio".
O problema não é só do Rio, mas
do mercado em geral. Concretamente, 90% dos jornais que circulavam em Nova York, Paris ou São
Paulo até meados daquela década
também deixaram de existir, e muito antes que alguém sonhasse com
a internet. Mas, em vez de invocar
uma suposta doença crônica, a
pergunta deveria ser: por que, diante da mesma crise, outros jornais
sobreviveram?
Algumas respostas seriam: seus
administradores acertaram mais do
que erraram, tiveram capacidade
de renovação e foram criativos
diante da concorrência, inclusive a
das outras mídias. O "Jornal do Brasil" tem sido algoz e vítima de si
mesmo há pelo menos 30 anos.
A edição de ontem minimizou o
fato de ter sido a última em papel.
Preferiu enfatizar que a de hoje será
a sua primeira 100% digital e que,
em 25 anos, todos os outros jornais
o terão acompanhado. Pode ser.
Mas algo da velha magia de ler jornal vai se quebrar. Teremos de levar
o laptop para a mesa do café da manhã e, pior, para o banheiro?
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