São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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RUY CASTRO

Velha magia

RIO DE JANEIRO - Ex-funcionários e leitores do "Jornal do Brasil" encontraram-se ontem na Cinelândia para lamentar o fim da versão impressa do jornal, que circulou pela última vez depois de 119 anos. Por motivo de viagem, não compareci. Melhor assim. Quando o "Correio da Manhã" se despediu, em junho de 1974, eu estava também a alguns milhares de quilômetros.
O "JB" se junta agora ao "Correio" e aos outros jornais do Rio que contaram a história do Brasil em boa parte do século 20, mas que há muito desapareceram das bancas: "Diário de Notícias", "O Jornal", "Diário da Noite", "A Noite", "Diário Carioca", "A Luta Democrática", "A Notícia", "Gazeta de Notícias", "O Radical", "Última Hora" e "Tribuna da Imprensa". Quase todos fecharam nos anos 60. Daquela geração restam apenas "O Globo", "O Dia", o "Jornal dos Sports" e o "Jornal do Commercio".
O problema não é só do Rio, mas do mercado em geral. Concretamente, 90% dos jornais que circulavam em Nova York, Paris ou São Paulo até meados daquela década também deixaram de existir, e muito antes que alguém sonhasse com a internet. Mas, em vez de invocar uma suposta doença crônica, a pergunta deveria ser: por que, diante da mesma crise, outros jornais sobreviveram?
Algumas respostas seriam: seus administradores acertaram mais do que erraram, tiveram capacidade de renovação e foram criativos diante da concorrência, inclusive a das outras mídias. O "Jornal do Brasil" tem sido algoz e vítima de si mesmo há pelo menos 30 anos.
A edição de ontem minimizou o fato de ter sido a última em papel. Preferiu enfatizar que a de hoje será a sua primeira 100% digital e que, em 25 anos, todos os outros jornais o terão acompanhado. Pode ser. Mas algo da velha magia de ler jornal vai se quebrar. Teremos de levar o laptop para a mesa do café da manhã e, pior, para o banheiro?


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