São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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RUY CASTRO

Com todo o respeito

RIO DE JANEIRO - Os americanos, mesmo os que votaram em Barack Obama, estão assustados: o presidente eleito não pode ver sua mulher, Michelle -um pedaço de morena, com todo o respeito-, sem começar com as intimidades em público. São beijos na boca, daqueles para valer, selinhos, roçar de narizes, mãos que se procuram e se afagam, e já se flagrou até um tapinha no dérrière da futura primeira-dama -mais uma vez, com todo o respeito.
Bem, esse é o estilo do novo casal presidencial americano, pelo menos enquanto o taxímetro não começar a correr. E não lembra em nada o do outro primeiro-casal com quem eles vivem sendo comparados: John Kennedy e sua mulher, Jacqueline. Na verdade, quando Kennedy assumiu a Presidência, em 1961, Jacqueline, resignada, foi preparar seu quarto na outra ala da Casa Branca -porque fazia anos que já não eram vizinhos de fronha.
Uma linda primeira-dama não é sinônimo de felicidade no casamento. Uma das realizações mais notórias da administração Kennedy foi o mulherio que passou pelo seu -também com todo o respeito- crivo, naqueles famosos mil dias de governo. Os conservadores falam em mil dias e mil mulheres. E com todas as categorias representadas: estrelas de cinema (Marilyn, a mais famosa), modelos, socialites, jornalistas, piranhas e até belas brasileiras de visita.
Para alguns analistas americanos, seus compatriotas podem não falar, mas atribuem o assanhamento explícito de Obama e Michelle ao fato de eles serem negros. Você conhece o estereótipo: os negros são alegres, musicais, elásticos, sensuais, bons de basquete e sapateado e, como as crianças, se deixam levar pelos instintos.
Provincianismo, puritanismo e racismo. Difícil saber qual palavra define melhor essa visão das coisas -ou se as três.


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