São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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A TRÍPLICE FRONTEIRA

Especialmente depois dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos passaram a acusar a suposta existência de atividade terrorista na região da tríplice fronteira (em que se encontram os territórios de Brasil, Argentina e Paraguai). Fazem-no, em público, por meio do levantamento de suspeitas genéricas, as quais jamais vieram acompanhadas de indícios veementes ou provas cabais. A mais recente dessas acusações proveio do polêmico subsecretário de Estado para a América Latina, o cubano-americano Otto Reich.
Num seminário, em Miami, Reich proclamou: "Terrorismo e violência política persistem nesse hemisfério. Organizações terroristas estão operando na Colômbia, no Peru e na região da tríplice fronteira". Pelo visto, depois do vexame por que passou no episódio da destituição golpista de Hugo Chávez, na Venezuela, o Departamento de Estado não reviu, como deveria, a sua política para a América Latina.
As preocupações dos norte-americanos quanto a supostas atividades terroristas na tríplice fronteira foram rebatidas em Washington pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Alberto Cardoso. O bom procedimento diplomático recomendaria que as autoridades norte-americanas só voltassem ao tema se estivessem munidas de informação nova, de indícios de prática terrorista.
Atividades típicas do crime organizado, como contrabando e lavagem de dinheiro, já foram detectadas na tríplice fronteira. E o Estado brasileiro, como um dos principais lesados por esses desmandos, deveria empenhar-se muito mais do que o faz para desbaratar essas quadrilhas.
Já quando se lança a acusação difusa de "terrorismo" sobre a região, o que se está a fazer, por meio de eufemismos, é colocar sob suspeita toda uma comunidade de ascendência árabe que vive na tríplice fronteira. Trata-se de uma atitude preconceituosa, inaceitável.


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