São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O círculo de ferro

SÃO PAULO - O que vai acontecer no Brasil nos próximos meses, se as pesquisas eleitorais continuarem mais ou menos do jeito que estão, foi traçado com perfeição por Geoffrey Dennis (do Salomon Smith Barney), em entrevista a Sérgio Dávila.
"Mesmo que Lula implemente uma política econômica totalmente liberal no primeiro dia de seu governo, a reação do mercado vai se antecipar a isso. Assim, antes de ele assumir, os títulos da dívida externa brasileira já terão caído, o real já vai estar mais desvalorizado, as taxas de juros provavelmente já terão subido...".
É a mais crua confissão da ditadura que os mercados impõem. Nem é preciso que Lula (ou que qualquer outro oposicionista, aliás) assuma e mostre que é inimigo dos mercados. Já terá sido fuzilado preventivamente.
Completa Dennis: "A reação terá sido tão rápida que talvez o mercado não dê tempo para que Lula seja construtivo". Construtivo, esclareça- se, significa render-se ao mercado.
Para os conformistas, a solução seria então eleger um homem de confiança dos mercados e do tal de pensamento único?
Foi mais ou menos isso que a América Latina fez, com raras exceções, a partir do início dos anos 90. Resultado -na avaliação de um economista norte-americano de primeira linha, Dani Rodrik (Harvard):
"Consideremos a América Latina, onde houve mais entusiasmo em relação ao chamado "Consenso de Washington" do que em qualquer outra região. Pelos padrões que norteiam o "Consenso", as políticas praticadas na América Latina foram melhores na década de 1990 do que em qualquer período anterior, mas poucos países da região cresceram mais rápido do que antes de 1980", escreveu Rodrik para o jornal "Valor Econômico" (30 de abril).
É esse círculo de ferro que exige uma resposta política que só pode ser dada por uma coalizão de líderes capazes de pôr o interesse do país acima de seus projetos pessoais e eleitorais. Existem?


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