|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O círculo de ferro
SÃO PAULO - O que vai acontecer no Brasil nos próximos meses, se as pesquisas eleitorais continuarem mais
ou menos do jeito que estão, foi traçado com perfeição por Geoffrey Dennis
(do Salomon Smith Barney), em entrevista a Sérgio Dávila.
"Mesmo que Lula implemente uma
política econômica totalmente liberal
no primeiro dia de seu governo, a
reação do mercado vai se antecipar a
isso. Assim, antes de ele assumir, os
títulos da dívida externa brasileira já
terão caído, o real já vai estar mais
desvalorizado, as taxas de juros provavelmente já terão subido...".
É a mais crua confissão da ditadura
que os mercados impõem. Nem é preciso que Lula (ou que qualquer outro
oposicionista, aliás) assuma e mostre
que é inimigo dos mercados. Já terá
sido fuzilado preventivamente.
Completa Dennis: "A reação terá
sido tão rápida que talvez o mercado
não dê tempo para que Lula seja
construtivo". Construtivo, esclareça-
se, significa render-se ao mercado.
Para os conformistas, a solução seria então eleger um homem de confiança dos mercados e do tal de pensamento único?
Foi mais ou menos isso que a América Latina fez, com raras exceções, a
partir do início dos anos 90. Resultado -na avaliação de um economista
norte-americano de primeira linha,
Dani Rodrik (Harvard):
"Consideremos a América Latina,
onde houve mais entusiasmo em relação ao chamado "Consenso de
Washington" do que em qualquer outra região. Pelos padrões que norteiam o "Consenso", as políticas praticadas na América Latina foram melhores na década de 1990 do que em
qualquer período anterior, mas poucos países da região cresceram mais
rápido do que antes de 1980", escreveu Rodrik para o jornal "Valor Econômico" (30 de abril).
É esse círculo de ferro que exige
uma resposta política que só pode ser
dada por uma coalizão de líderes capazes de pôr o interesse do país acima
de seus projetos pessoais e eleitorais.
Existem?
Texto Anterior: Editoriais: A TRÍPLICE FRONTEIRA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Na mesma moeda Índice
|