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CARLOS HEITOR CONY
Santos e pecadores
RIO DE JANEIRO - Leitores de diversas origens pedem um comentário sobre aquilo que a imprensa está chamando de "crise na igreja".
Antes de mais nada, não vejo crise
na igreja. Há, isso sim, uma crise moral, que afeta a humanidade como
um todo e não exclui parte dela, que
é o clero, católico ou não, constituído,
como sabemos, por homens, e não
por anjos.
E homens são homens -a frase é
de Yago. O diferencial da Igreja Católica diante de outras é a sua permanência na história. E, de duas, uma:
ou ela é divina, como querem os católicos, ou é simplesmente humana, como querem os adeptos de outras religiões e, obviamente, os ateus, que não
aceitam a idéia de um Deus, seja ele
qual for.
Se a igreja deve a sua fundação e a
sua permanência a alguma divindade ou a um Deus único e verdadeiro,
não há nenhuma vantagem nessa
permanência ao longo de 20 séculos
de história. E, tal como os judeus, que
se consideram o povo eleito, mas sofreram o diabo, sentindo-se desamparados pelo próprio Deus, a igreja
em muitas etapas de sua trajetória
também parece abandonada por
aquele que a fundou e garante sua
permanência.
A alternativa é encarar a igreja como produção meramente humana,
sendo espantosa, portanto, a sua sobrevivência em tantos e tão sofridos
lances de sua biografia.
E, novamente, de duas, uma: ou o
comportamento dos homens que a
integram é uma provação divina para purificá-la, ou é mais um lance em
que os homens, mesmo sendo homens, são capazes de criar um colosso que atravessa a história como a
maior obra coletiva de um punhado
de homens.
De maneira que a crise na igreja
não existe. É uma crise de homens
entre homens. Se existe Deus, e Deus
está com eles, não haverá problema:
a chamada Barca de Pedro continuará navegando ao longo da história.
Se Deus não existe e, por isso, não está com eles, também não há problema: a igreja seria uma fraude, independentemente de seus santos e de
seus pecadores.
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