São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2000


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CARLOS HEITOR CONY

No bunker de Brasília

RIO DE JANEIRO - Em tempos mais retóricos, quando um político entrava em crise, costumava lançar um manifesto à nação, declarando que a pátria estava perdida, quando, na realidade, quem estava perdido era ele. Hoje acontece a mesma coisa, só que em escala maior, em hierarquia mais alta. Gente do governo declara que o Estado está falido, quando o falido é o próprio governo.
Perdi a conta dos planos salvadores que rotineiramente são anunciados, com pompa e claque na mídia, ameaçando desenvolvimento e ênfase nas prioridades sociais. Tivemos o ""Avança Brasil", que nada avançou. E, agora, o plano de segurança com mais de cem itens, a maioria deles ridículos, feitos apenas para mostrar trabalho de equipes que pouco ou nada trabalham.
No fundo, tal como acontece sempre que alguma crise mais forte explode, o governo transfere para a sociedade a iniciativa e a responsabilidade pelo lado operacional dos problemas sociais.
A crise que passamos no setor da segurança deve ser encarada como uma situação limite, quase diria um ""casus belli", um caso de guerra sem fronteiras e sem terra-de-ninguém, onde todos fazemos parte do ""front", podendo a qualquer minuto estar diante da arma que nos matará, da granada que explodirá em nossos pés.
O governo, presidido por um intelectual acaciano, limita-se a dizer que ""não tolera" a violência e a corrupção. Seria espantoso se tolerasse. E a violência continua agredindo a sociedade. E a corrupção a escandaliza e humilha.
No bunker da Potsdam Platz, Hitler continuava a redesenhar seu Estado que duraria mil anos, enquanto os russos já lutavam nas ruas de Berlim.
O pior num governante é quando, além de não ouvir o clamor das ruas, não vê nem sabe o que está acontecendo na sala ao lado da sua.


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