|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
No bunker de Brasília
RIO DE JANEIRO - Em tempos mais
retóricos, quando um político entrava em crise, costumava lançar um
manifesto à nação, declarando que a
pátria estava perdida, quando, na
realidade, quem estava perdido era
ele. Hoje acontece a mesma coisa, só
que em escala maior, em hierarquia
mais alta. Gente do governo declara
que o Estado está falido, quando o falido é o próprio governo.
Perdi a conta dos planos salvadores
que rotineiramente são anunciados,
com pompa e claque na mídia,
ameaçando desenvolvimento e ênfase nas prioridades sociais. Tivemos o
""Avança Brasil", que nada avançou.
E, agora, o plano de segurança com
mais de cem itens, a maioria deles ridículos, feitos apenas para mostrar
trabalho de equipes que pouco ou nada trabalham.
No fundo, tal como acontece sempre que alguma crise mais forte explode, o governo transfere para a sociedade a iniciativa e a responsabilidade pelo lado operacional dos problemas sociais.
A crise que passamos no setor da segurança deve ser encarada como
uma situação limite, quase diria um
""casus belli", um caso de guerra sem
fronteiras e sem terra-de-ninguém,
onde todos fazemos parte do ""front",
podendo a qualquer minuto estar
diante da arma que nos matará, da
granada que explodirá em nossos
pés.
O governo, presidido por um intelectual acaciano, limita-se a dizer
que ""não tolera" a violência e a corrupção. Seria espantoso se tolerasse.
E a violência continua agredindo a
sociedade. E a corrupção a escandaliza e humilha.
No bunker da Potsdam Platz, Hitler
continuava a redesenhar seu Estado
que duraria mil anos, enquanto os
russos já lutavam nas ruas de Berlim.
O pior num governante é quando,
além de não ouvir o clamor das ruas,
não vê nem sabe o que está acontecendo na sala ao lado da sua.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A insegurança da oposição Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Assustador Índice
|