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CARLOS HEITOR CONY
Parando no "D"
RIO DE JANEIRO - Li não sei onde que um trio elétrico, a serviço da
campanha eleitoral de um candidato
a governador, havia colocado um letreiro luminoso na lateral do veículo
com o nome não apenas do pretendente ao governo local, mas do candidato presidencial apoiado pelo próprio.
Digamos que o letreiro era "Por um
Brasil melhor, votem em Fulano e no
Ciro". Tudo bem. Acontece que na semana passada o candidato Ciro caiu
nas pesquisas e o candidato Serra subiu alguns pontos.
Pronto. Estava armado um drama
de consciência e de iluminação para
o dono do trio elétrico. Ele deve ter lido Machado de Assis e, se não leu,
adotou uma técnica que o nosso mestre colocou num de seus livros.
O personagem machadiano era dono de uma confeitaria, a Confeitaria
Império, e nela mandou fazer umas
reformas, pintando novamente o nome do estabelecimento. Dera ordens
ao pintor para repetir o "Confeitaria
do Império", mas aí veio o 15 de novembro de 1889 e, nas primeiras horas, não se sabia ao certo se prevaleceria o Império, a República ou um
Governo Provisório qualquer.
O dono mandou um recado urgente ao pintor: "Pare no D". Esperaria
baixar a poeira, ver no que iam dar
as coisas para decidir qual o nome de
sua confeitaria. Seria do Império, como era antes; da República; ou do
Governo Provisório, fosse o que fosse.
Viesse o que viesse, parando no "D"
ele ficaria do lado certo, ou seja, do
lado vencedor.
Não havia pesquisas naquele tempo. Hoje há. O dono do trio elétrico
não precisa mandar parar no "D". A
cada semana ele se atualiza, atualizando o seu letreiro iluminado.
São muitos os que, apesar de não
serem donos de trios elétricos, estão
parando no "D", à espera de uma definição, de um quadro mais nítido
para ficarem donos da cocada preta
desde criancinhas.
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