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CLÓVIS ROSSI
O pré-sal e o pós-sal
LONDRES - Pura coincidência,
mas muito significativa: no dia em
que boa parte dos jornais do mundo
dava destaque para o pré-sal brasileiro, começava em Londres o, digamos, pós-sal -uma campanha cujo
fim último fatalmente será o de um
mundo com muito menos consumo
de petróleo.
A campanha chama-se 10:10, porque visa reduzir em 10% em 2010 a
emissão de gases que causam o
aquecimento global. Petróleo e derivados são, sabidamente, os vilões
principais nessa história, seguidos
pelo desmatamento.
A campanha envolve "uma coligação sem precedentes de cientistas, empresas, celebridades e organizações [sociais], cobrindo todo o
espectro político e cultural", segundo o jornal "The Guardian", que
aderiu com tudo ao 10:10, a ponto
de toda a sua capa de ontem estar
dedicada ao tema do aquecimento
global (não, petistas hidrófobos, o
"Guardian" não está fazendo a campanha de Marina Silva).
Do meu ponto de vista, o que chama mais a atenção é o fato de que se
busca envolver cada cidadão no esforço dos 10:10. Tanto que um quadro na capa mostra "cinco maneiras
pelas quais você pode dar apoio à
campanha". Uma delas: "Compartilhe sua experiência de tentar viver
uma vida de baixo uso de carbono e
consiga orientação de nossos peritos verdes".
Quando digo que se trata de uma
coincidência significativa não é para criticar o pré-sal. Ao contrário.
Mesmo que o petróleo tenha vida
mais ou menos curta, o Brasil é um
dos poucos países do mundo, talvez
o único, com a imperdível oportunidade de usar os recursos provenientes de um combustível sujo para desenvolver e/ou consolidar as
alternativas limpas que possui.
Foi esse o principal aspecto que
faltou discutir nessa história do
marco regulatório do pré-sal. Se
continuar ausente, aí, sim, se dará a
"maldição" a que aludiu o presidente Lula.
crossi@uol.com.br
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