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CLÓVIS ROSSI
Fracasso continuado
SÃO PAULO - O Estado de São
Paulo implantou, na educação, o
método batizado de "progressão
continuada", eufemismo para dizer
que mesmo quem não aprendeu direito passa de ano. Seria melhor rebatizar o modelo para "fracasso
continuado", a julgar pelos dados
extraídos do Saeb (exame federal de
avaliação da aprendizagem), ontem
expostos nesta Folha por Fábio
Takahashi.
Fracasso pelos motivos óbvios:
alunos do terceiro ano -ou seja,
prontos para o vestibular de ingresso na faculdade- não sabem mais
do que deveriam saber se ainda estivessem na oitava série.
Continuado porque São Paulo é
um dos raros Estados em que um
mesmo partido (no caso, o PSDB)
está no comando há 13 anos. Não
vale dizer que José Serra, o terceiro
governador da linhagem tucana, está no poder há apenas nove meses e
não teria tido tempo de parir um
programa próprio para o setor.
Tolice: a proposta de Serra (dois
professores em cada sala de aula)
não é resposta, a julgar pelo que diz
a sua própria secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de
Castro.
Para ela, "os professores não estão preparados". Ora, se não estão,
dois professores despreparados na
mesma sala de aula só aumentarão
o tamanho do problema.
Mas os resultados extraídos do
Saeb vão muito além do fracasso de
um partido. Primeiro, porque dizem respeito ao conjunto das escolas (privadas e públicas, ainda que
as públicas tenham de fato número
mais nefastos). Segundo, porque
aparecem após 12 anos em que os
ministros da Educação foram gente
do ramo e gente séria (Paulo Renato Souza, Cristovam Buarque, Fernando Haddad).
Não é, pois, um problema só do
ministério nem só do setor público.
Desnecessário dizer que o Brasil
não tem a menor chance de chegar
a um estágio civilizado com esse nível de educação, certo?
crossi@uol.com.br
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