São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Pau puro

BRASÍLIA - É no mínimo incomum que o comandante da Aeronáutica encomende um IPM (Inquérito Policial Militar), homologue as conclusões e já sugira o indiciamento de controladores de vôo antes mesmo do relatório final sobre as causas do acidente. Pois foi isso o que ocorreu. O brigadeiro Juniti Saito pediu, o coronel-aviador Luiz Claudio Ribeiro da Silva foi o encarregado e o resultado do IPM foi encaminhado à Justiça Militar citando "a existência de materialidade e indícios de autoria de crime" no acidente com o vôo 1907, que matou 154 pessoas.
O IPM inicialmente indiciava quatro sargentos. Depois, indiciou um suboficial, agora na reserva, que repassou a autorização de vôo liberada por Brasília para o Legacy. Ele foi convocado como testemunha no IPM. Virou indiciado.
Com mais de 50 anos, esse controlador recebeu capítulos duros no IPM homologado por Saito, por ser experiente e saber que o plano de vôo original tinha três altitudes, mas só ter passado uma. O relatório diz que a autorização passada aos pilotos americanos não foi "sequer um arremedo de autorização".
Como se trata de inquérito militar, o alvo de investigação e de providências foram os controladores da Aeronáutica, que tiveram atuação decisiva no acidente e agora correm o risco de processos e punições. Há ainda um outro IPM investigando se houve crime de motim, e quem esteve envolvido nele, durante a greve de 30 de março que parou os aeroportos de todo o país. Pelo visto, Saito é japonês, mas não é tão zen nem está brincando.
E os pilotos? O IPM não foi feito para investigá-los, mas não deixou de criticá-los duramente. Vôo sob vigilância radar, ensinam os autores, são de responsabilidade de seus pilotos, antes de mais nada. Ou seja: a fase terrível de atribuição de culpas e, principalmente, de guerra por indenizações, está começando.
E vai ser de matar.


elianec@uol.com.br

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