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CARLOS HEITOR CONY
Homens e idéias
RIO DE JANEIRO - Consta que
Diógenes, com o sol mediterrâneo
lambendo forte os mármores clássicos de Atenas, saía do tonel em
que vivia e, de lanterna acesa, andava pelas ruas espantando a todos
que o julgavam louco. Com tanto e
tamanho sol, a luz de uma lanterna
era, além de um pleonasmo, a prova
de uma demência em progresso.
Perguntaram ao filósofo o que ele
fazia com aquela lanterna cuja luz
nem iluminar podia o que já estava
suficientemente iluminado. Diógenes respondeu que estava procurando um homem. Consta também
que era visto pedindo esmola às estátuas que ia encontrando pelo caminho, aquelas estátuas de olhos
vazados, que nada enxergavam e
nada escutavam, modelos de beleza
e insensibilidade às súplicas humanas. Por essas e outras, além de demente foi considerado cínico.
Se vivesse no Brasil de hoje, não
seria nem demente nem cínico, e
talvez nem filósofo pudesse ser.
De suas manias antigas só manteria o domicílio dentro um tonel,
sem pagar IPTU nem taxa de incêndio e condomínio. Não teria estátuas pelas ruas para pedir esmola.
Com muita sorte, poderia habilitar-se a um dos programas do governo,
ao Fome Zero, por exemplo, se é
que ainda existe este programa
inaugural do primeiro mandato do
presidente Lula -a quem abracei
cordialmente na ABL na semana
passada.
Restaria a Diógenes andar de lanterna acesa pelos 8,5 milhões de
quilômetros quadrados do território nacional, procurando aquilo que
considerasse "um homem". Ele ignoraria aquela constatação atribuída a Oswaldo Aranha, segundo a
qual o Brasil é um deserto de homens e de idéias.
Desanimado, acabaria comprando a próxima e suculenta edição da
"Playboy" para ver a Mônica Veloso
pelada. E compreenderia por que
nos faltam homens e idéias.
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