São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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CARANDIRU, SEIS ANOS

No dia de hoje completam-se seis anos do massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos pela Polícia Militar paulista. O episódio, exemplo de barbárie concentrada, foi o momento mais terrível da selvageria policial que marcou o governo Luiz Antonio Fleury Filho. A PM, em sua administração, bateu recordes de homicídios. Apenas num ano, o número de vítimas da corporação ultrapassou a casa do milhar.
É frustrante constatar que, decorridos seis anos do massacre, nenhum de seus responsáveis tenha sido nem sequer julgado. Esse tipo de impunidade tão costumeira quando estão envolvidos, direta ou indiretamente, funcionários do Estado reforça a idéia difundida de que a Justiça no país ainda cumpre suas funções mal e mais lentamente do que seria aceitável, embora esse processo seja de fato complexo, entre outras razões pelo número de policiais envolvidos na operação que resultou na chacina.
Espera-se que se confirme a notícia de que o comandante-geral da PM à época do massacre, coronel Ubiratan Guimarães, que coordenou a invasão do Pavilhão 9, pode ir a júri popular. Seria bom para a saúde da sociedade e da democracia que isso ocorresse.
Tal fato, porém, pode ser frustrado se o coronel conseguir se eleger deputado estadual depois de amanhã, o que lhe daria imunidade parlamentar e transferiria o caso para o Tribunal de Justiça. Aliás, muitos verão nessa candidatura do coronel ao Legislativo uma maneira de escapar da Justiça, o que evidencia qual é a responsabilidade do eleitor numa democracia. É preciso rever com urgência a lei que dá imunidade aos parlamentares. Ela deveria servir à proteção da instituição e não para garantir a impunidade de pessoas como Ubiratan.



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