São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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Agenda desfocada

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É irônico: a grande maioria das propostas anticrise apresentadas anteontem pelo PT tem sido defendida por gente do primeiro escalão do governo FHC.
Suponho até que o plural seria mais correto, mas não posso garantir.
Pena que o PT tenha demorado tanto para formalizar sua bula contra a crise. É verdade que já havia divulgado antes algumas idéias, mas no circuito fechado das conversas com colunistas de economia (Celso Pinto, por exemplo, tratou delas em texto de uns 20 ou 30 dias atrás).
Mas o fato é que nem a oposição conseguiu cravar a discussão sobre a conjuntura na agenda eleitoral nem o governo quis fazê-lo.
E, no entanto, a gravidade da crise é tamanha que, certamente, essa será a inevitável agenda do imediato pós-eleição e, talvez, de um futuro não tão imediato assim.
A única coisa que o governo fez, até agora, foi cantar a bola de um ajuste fiscal, via redução de despesas ou via elevação de impostos. Ocorre que muita gente duvida de que a questão do déficit interno seja mais relevante do que o buraco nas contas externas.
Vide, por exemplo, Luís Nassif, que não se cansa, com abundância de argumentos técnicos e numéricos, de demonstrar que os dois déficits não são tão gêmeos assim (a coluna de ontem de Nassif deixa pouco espaço para discordar dele, a não ser pelos que se apegam a dogmas mais que a fatos).
Se Nassif, entre outros, estiver correto (e suponho que esteja), a agenda do momento é, pois, o problema do financiamento externo, mais que o déficit interno.
E, sobre esse ponto, reina o mais absoluto silêncio nos arraiais governistas. Nunca vi, apesar de razoável experiência na cobertura de "pacotes" econômicos, uma opacidade tão formidável. Ou nem o governo sabe direito o que fazer e, por isso, manterá o rumo, apesar dos sinais de esgotamento do modelo, ou virão surpresas.



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