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Agenda desfocada
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - É irônico: a grande
maioria das propostas anticrise apresentadas anteontem pelo PT tem sido
defendida por gente do primeiro escalão do governo FHC.
Suponho até que o plural seria mais
correto, mas não posso garantir.
Pena que o PT tenha demorado tanto para formalizar sua bula contra a
crise. É verdade que já havia divulgado antes algumas idéias, mas no circuito fechado das conversas com colunistas de economia (Celso Pinto, por
exemplo, tratou delas em texto de uns
20 ou 30 dias atrás).
Mas o fato é que nem a oposição
conseguiu cravar a discussão sobre a
conjuntura na agenda eleitoral nem o
governo quis fazê-lo.
E, no entanto, a gravidade da crise é
tamanha que, certamente, essa será a
inevitável agenda do imediato pós-eleição e, talvez, de um futuro não tão
imediato assim.
A única coisa que o governo fez, até
agora, foi cantar a bola de um ajuste
fiscal, via redução de despesas ou via
elevação de impostos. Ocorre que muita gente duvida de que a questão do
déficit interno seja mais relevante do
que o buraco nas contas externas.
Vide, por exemplo, Luís Nassif, que
não se cansa, com abundância de argumentos técnicos e numéricos, de demonstrar que os dois déficits não são
tão gêmeos assim (a coluna de ontem
de Nassif deixa pouco espaço para discordar dele, a não ser pelos que se apegam a dogmas mais que a fatos).
Se Nassif, entre outros, estiver correto (e suponho que esteja), a agenda do
momento é, pois, o problema do financiamento externo, mais que o déficit interno.
E, sobre esse ponto, reina o mais absoluto silêncio nos arraiais governistas. Nunca vi, apesar de razoável experiência na cobertura de "pacotes"
econômicos, uma opacidade tão formidável. Ou nem o governo sabe direito o que fazer e, por isso, manterá o
rumo, apesar dos sinais de esgotamento do modelo, ou virão surpresas.
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