São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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Escrito nas estrelas

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Mário Covas atravessou a eleição inteirinha em terceiro lugar e só encostou em Francisco Rossi uma única vez. Mas todo mundo apostou o tempo inteiro que ele iria para o segundo turno.
Olho no olho, Covas diz não ter dúvidas: "Já disputei nove eleições e sei como é, sinto o clima. Tenho certeza de que estou no segundo turno". De longe, parece uma aposta arriscada.
A única certeza em São Paulo é que a dianteira de Paulo Maluf é sólida, e ele vai chegar muito forte ao segundo turno. Não será fácil derrotá-lo.
No mais, há indefinições. Francisco Rossi foi mais longe do que podia, e é natural que venha perdendo fôlego. Covas vai que vai, mas ainda não foi. Marta está indo, devagar e sempre.
Covas bateu em Rossi, e os votos foram para Maluf. Bateu em Maluf, mas é como esmurrar cara-de-pau.
Ao contrário, Marta decidiu bater em Covas, e parece dar certo. Ele havia chegado a 19% no Datafolha, mas voltou agora para 17%. E Marta está ali encostada, com 14%.
A agressão de Marta é em legítima defesa, para se proteger do "voto útil". O eleitor petista treme de pensar num segundo turno entre Maluf e Rossi. E pode na última hora votar em Covas.
Em 82, Lula disputou o governo de São Paulo e teve 9,87% dos votos. Em 86, Suplicy ficou com 9,76%. Em 90, Plínio de Arruda Sampaio chegou com 9,55%. Em 94, José Dirceu conseguiu um recorde: 11,32%.
Marta já tem uma vitória, que são os três a quatro pontos percentuais a mais que a média dos candidatos anteriores do PT. Mas é daí que pode sair a migração de votos para Covas.
A dúvida é se, numa situação de quase equilíbrio entre os dois candidatos, o eleitor petista vai engolir em seco e votar num tucano.
Repete-se, portanto, a sina da centro-esquerda paulista: votar pragmaticamente, ou partidária e ideologicamente. O risco é cair, no segundo turno, nos braços do velho Maluf e do novo Rossi.
A não ser que alguém acredite que Rossi é mesmo de esquerda, só porque é do PDT. Aí, não dá para discutir. Só rir, ou chorar.



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