São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Emoções x realidades

MIAMI - Edward Wasserman, professor de ética jornalística nas Universidades Washington e Lee, escreve para o "Miami Herald" que "os dois lados da disputa presidencial mostram-se ansiosos para declarar que esta eleição é o evento mais momentoso desde a descoberta do fogo".
Há, portanto, uma certa semelhança entre o pleito presidencial nos EUA e a eleição municipal em São Paulo, em que ambos os lados se esforçaram para dar algum tom apocalíptico à vitória do adversário.
Cá como aí, há e houve exagero. Pode-se -e até deve-se- simpatizar mais com George Walker Bush ou com John Kerry, mas daí a acreditar que a vitória de Bush levará os Estados Unidos a pôr fogo no mundo, invadir o Irã, criar a Alca na marra etc. é um baita exagero. Da mesma forma, supor que Kerry revolucionaria a política norte-americana equivale a acreditar em Papai Noel.
Não que não haja diferenças até importantes entre eles. Mas estão sobretudo no campo dos valores. Kerry é "progressista", e Bush, conservador em territórios como aborto, casamento gay, pesquisas com células-tronco etc.
É verdade que, em relações internacionais, Kerry promete ser mais multilateralista. Mas é difícil acreditar que, em caso de dificuldades com os parceiros, ele se sinta realmente inibido em exercitar o poder incontrastável dos EUA. Não vai, por exemplo, chamar de volta as tropas que estão no Iraque e no Afeganistão.
Quanto a Bush, James Lindsay, diretor de estudos do Council on Foreign Relations, diz, depois de lembrar o esforço militar exigido pela situação no Iraque, que "os EUA não estão em condições de levar adiante outra grande guerra e ocupação no Irã, que tem três vezes a população iraquiana".
Eleição é sempre um momento emocionante, aqui como aí, mas, quando a emoção cessa, as realidades voltam a ser menos dramáticas. Ou até monótonas, como se está vendo no caso Lula.


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