São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

O novo apagão

SÃO PAULO - A pátria amada entrou em frenético ritmo de samba do crioulo doido, o que faz com que boa parte das pessoas raciocine com o fígado, aposentando o cérebro ou botando-o para hibernar.
A coisa hoje em dia funciona assim: se o cidadão é lulo-petista acredita em tudo o que o governo/PT dizem e acha que tudo o que a oposição e setores da mídia dizem é "conspiração". Não importa que o próprio Lula tenha usado cadeia de rádio e TV para pedir desculpas, que tenha demitido seu segundo ministro mais poderoso depois de Antonio Palocci ou que toda a coluna vertebral do PT tenha sido jogada no lixo. Prevalece a teoria da conspiração.
Do outro lado, qualquer coisa que se diga contra o governo passa automaticamente a ser verdade, por inverossímil que pareça.
É o caso dos dólares cubanos. Apontei ontem o que me parece total inverosimilhança na história, naquela solidão habitual. Aí, um punhado de militantes anti-PT reage com uma linha de argumentação que parece saída de algum conto de realismo fantástico.
O principal argumento: é igualmente inverossímil transportar dólares na cueca, mas, não obstante, um petista o fez. Como se a ocorrência de um absurdo tornasse todos eles não só verossímeis como inevitáveis.
Segundo argumento: o PT negou o uso do caixa dois, mas, não obstante, usou caixa dois. Logo, se o PT nega que haja dinheiro de Cuba, obrigatoriamente há dinheiro de Cuba.
É tão incrível quanto insistir na teoria da conspiração, mas acontece quando as pessoas aposentam a obrigatoriedade de raciocinar para se guiar apenas pelo fígado.
Falta agora aparecer um petista para dizer que, se o governo FHC negou a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, mas, não obstante, houve compra de votos, então o dossiê Cayman é verdadeiro.
Entendeu? Não? Não se preocupe. O país vive mesmo um apagão político sem precedentes.

@ - crossi@uol.com.br


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