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CLÓVIS ROSSI
O novo apagão
SÃO PAULO - A pátria amada entrou em frenético ritmo de samba do
crioulo doido, o que faz com que boa
parte das pessoas raciocine com o fígado, aposentando o cérebro ou botando-o para hibernar.
A coisa hoje em dia funciona assim:
se o cidadão é lulo-petista acredita
em tudo o que o governo/PT dizem e
acha que tudo o que a oposição e setores da mídia dizem é "conspiração". Não importa que o próprio Lula tenha usado cadeia de rádio e TV
para pedir desculpas, que tenha demitido seu segundo ministro mais
poderoso depois de Antonio Palocci
ou que toda a coluna vertebral do PT
tenha sido jogada no lixo. Prevalece a
teoria da conspiração.
Do outro lado, qualquer coisa que
se diga contra o governo passa automaticamente a ser verdade, por inverossímil que pareça.
É o caso dos dólares cubanos.
Apontei ontem o que me parece total
inverosimilhança na história, naquela solidão habitual. Aí, um punhado
de militantes anti-PT reage com uma
linha de argumentação que parece
saída de algum conto de realismo
fantástico.
O principal argumento: é igualmente inverossímil transportar dólares na cueca, mas, não obstante, um
petista o fez. Como se a ocorrência de
um absurdo tornasse todos eles não
só verossímeis como inevitáveis.
Segundo argumento: o PT negou o
uso do caixa dois, mas, não obstante,
usou caixa dois. Logo, se o PT nega
que haja dinheiro de Cuba, obrigatoriamente há dinheiro de Cuba.
É tão incrível quanto insistir na teoria da conspiração, mas acontece
quando as pessoas aposentam a obrigatoriedade de raciocinar para se
guiar apenas pelo fígado.
Falta agora aparecer um petista
para dizer que, se o governo FHC negou a compra de votos para aprovar
a emenda da reeleição, mas, não obstante, houve compra de votos, então
o dossiê Cayman é verdadeiro.
Entendeu? Não? Não se preocupe. O
país vive mesmo um apagão político
sem precedentes.
@ - crossi@uol.com.br
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