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ELIANE CANTANHÊDE
Senso de oportunidade
BRASÍLIA - Em 1986, o governo que deveria ser de Tancredo Neves e era
de José Sarney estava uma bagunça,
ninguém se entendia. E, apesar de líder do governo, o senador Fernando
Henrique Cardoso surfou na onda:
em entrevista ao "Jornal do Brasil",
ele arrasou o governo, chamando o
ministro do Planejamento, João Sayad, de "confeito de bolo".
FHC deu azar. A entrevista foi publicada no mesmo dia em que Sarney
lançou o Plano Cruzado, a mais sensacional jogada econômica e de marketing daquele momento. O senador
ficou falando sozinho, fora de hora.
É mais ou menos o que ocorreu nesta semana. O sociólogo racional e elegante incorporou um candidato passional e extemporâneo e chamou o
governo de "incompetente", mirando
diretamente Lula: "O rei está nu".
FHC deu azar novamente. Sua fala
foi publicada na terça-feira e, no
mesmo dia, o IBGE informou que o
Brasil cresceu 5,3% nos primeiros nove meses deste ano. Foi o melhor desempenho no mesmo período desde
1995 -ou seja, melhor do que nos
dois mandatos tucanos.
FHC falou da ação de governo como um todo e atraiu a ira das várias
tendências do PT e de aliados governistas de todos os tipos, inclusive dos
que são tão ou até bem mais raivosos
do que ele próprio contra a política
econômica -de resto, tão parecida
com a sua. Num misto de vencedor e
de vítima, Palocci tripudiou ao cobrar mais "elegância" de FHC.
Algumas conclusões: 1) está na hora
de FHC aprender quando falar o quê;
2) o principal flanco do governo Lula
não é a economia, mas a ausência de
programas, a falta de rumo na área
social, o mau gerenciamento, a brigalhada e a inabilidade política; 3) apesar disso, é a economia, e não o resto
do governo, que realmente conta para definir cenários e candidaturas
para 2006.
Ou seja: o governo é sofrível, mas, se
a economia cresce e os empregos aparecem, a reeleição de Lula continua
sendo a aposta mais segura. E FHC
pode falar o que quiser, mas não vai
pagar para ver.
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