São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Reagir é preciso

SÃO PAULO - Do jornalista William Bonner, ao explicar porque reagiu a assaltantes que atacaram sua casa no Rio de Janeiro: "Passados cerca de 45 minutos sob a mira de uma pistola, desesperado com o que poderia ocorrer com minha família, contrariei todas as recomendações de autoridades policiais -em quem verdadeiramente sempre acreditei".
Títulos de ontem dos tablóides britânicos, com o exagero habitual: "You can kill a burglar" (você pode matar um ladrão).
O título refere-se a novas orientações do governo britânico sobre como lidar com invasores de sua casa. No limite, está autorizado matá-los, mas há o risco de processo judicial se for usada "força muito excessiva".
Nas recomendações sobre não reagir, que é o padrão no Brasil, e nas novas orientações da polícia britânica está o abismo entre a civilização e a barbárie.
No Brasil, aceitamos a barbárie, na forma de nunca reagir mesmo quando você está dentro da lei e corre risco, assim como sua família.
No fundo, é a confissão das autoridades de que são incapazes de conter a criminalidade, e o melhor que podem fazer é evitar mais mortes em troca do abandono do direito de legítima defesa. Ou, posto de outra forma, aceita-se a lei da selva.
No caso inglês, as novas orientações não querem dizer que, antes, havia ordens para não reagir. Trata-se de avisar o cidadão que, se reagir e machucar ou matar o invasor, não será perseguido judicialmente, desde que não empregue força excessiva nem busque vingança (matar o ladrão depois que ele já fugiu, aí é vingança e dá processo).
Não estou recomendando a reação contra assaltantes armados. Ela é apenas o último elo de uma cultura de respeito à lei acima de tudo. Quando a própria autoridade recomenda ceder ao crime, tem-se a diferença entre um país organizado e a baderna.


Texto Anterior: Editoriais: SEM EUFEMISMO

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Samba do partido louco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.