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CLÓVIS ROSSI
Reagir é preciso
SÃO PAULO - Do jornalista William Bonner, ao explicar porque reagiu a
assaltantes que atacaram sua casa
no Rio de Janeiro: "Passados cerca de
45 minutos sob a mira de uma pistola, desesperado com o que poderia
ocorrer com minha família, contrariei todas as recomendações de autoridades policiais -em quem verdadeiramente sempre acreditei".
Títulos de ontem dos tablóides britânicos, com o exagero habitual:
"You can kill a burglar" (você pode
matar um ladrão).
O título refere-se a novas orientações do governo britânico sobre como
lidar com invasores de sua casa. No
limite, está autorizado matá-los, mas
há o risco de processo judicial se for
usada "força muito excessiva".
Nas recomendações sobre não reagir, que é o padrão no Brasil, e nas
novas orientações da polícia britânica está o abismo entre a civilização e
a barbárie.
No Brasil, aceitamos a barbárie, na
forma de nunca reagir mesmo quando você está dentro da lei e corre risco, assim como sua família.
No fundo, é a confissão das autoridades de que são incapazes de conter
a criminalidade, e o melhor que podem fazer é evitar mais mortes em
troca do abandono do direito de legítima defesa. Ou, posto de outra forma, aceita-se a lei da selva.
No caso inglês, as novas orientações
não querem dizer que, antes, havia
ordens para não reagir. Trata-se de
avisar o cidadão que, se reagir e machucar ou matar o invasor, não será
perseguido judicialmente, desde que
não empregue força excessiva nem
busque vingança (matar o ladrão depois que ele já fugiu, aí é vingança e
dá processo).
Não estou recomendando a reação
contra assaltantes armados. Ela é
apenas o último elo de uma cultura
de respeito à lei acima de tudo.
Quando a própria autoridade recomenda ceder ao crime, tem-se a diferença entre um país organizado e a
baderna.
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